segunda-feira, 19 de abril de 2010

Confusão Constitucional

Certas coisas, eu não entendo.
Não entendo, por exemplo, por que eu continuo tentando passar no Exame de Direção, visto que já está plenamente óbvio que o DETRAN só vai me fornecer uma carteira B quando eu tiver competência e habilidade notável na operação de naves espaciais. Não entendo por que diabos o nintendo Wii vende tanto se qualquer um com meia capacidade cognitiva sabe que ele é um fracasso. Mas o que eu não consigo entender mesmo é o nosso poder judiciário.
Amanhã terei prova de Direito Constitucional, matéria ministrada pelo prof. Yuri Dantas, homem que apesar da extrema sapiência em matéria jurídica, eu admiro ainda mais pela paciência de ter chegado tão longe em Eternal Sonata, para Play Station 3. Digo, a matéria do Poder Judiciário está pacificada na doutrina. As competências, a administração, os órgãos, tudo. Está tudo lá. O Poder Judiciário está em perfeita harmonia formal.
Mas ainda assim, a sua execução é um fracasso. A Constituição, por exemplo, prevê andamento célere nos encargos processuais, e ainda assim, nossos processos são obras quase hereditárias, se é que você me entende. O Amazonas Shopping te manda pagar o maldito ticket de estacionamento,e então, próxima coisa que você sabe são 5 anos no tribunal, o Supremo Tribunal Federal todinho às voltas com a matéria, o Gilmar Mendes coçando o queixo e o processo ainda na justiça.
Bem, hipérboles à parte, o Poder Judiciário não é o problema, nós sabemos disso. A Constituição não é o problema, de igual modo. Digo, abra-a e perceba como ela é linda e completa. Completa até à exaustão, eu diria. Perceba você, caro leitor, que o problema não está nesta obra brasileira, mas no brasileiro em si. Digo, o brasileiro existe para estragar suas melhores obras, já perceberam? O brasileiro tem toda uma bíblia jurídica de proporções magníficas, de uma abrangência panorâmica, e ainda assim vai para o tribunal porque intimou o vizinho a não erguer o muro à certa distância, e o filho da puta foi lá e ergueu a porcaria do muro mesmo assim. Digo, brigamos por batatinhas aqui, você me entende? O brasileiro é dotado de uma falta de educação, de uma necessidade por levar vantagem, que é sem precedentes. É quase imundo, por vezes. Se o mundo fosse um fast food, os países ricos seriam aqueles que entram na fila e pedem um refrigerante grande para toda a família, mesmo sabendo que eles podem pedir refil quando bem quiserem. O brasileiro é aquele que estaciona na vaga de deficientes do lado de fora, manda o filho sair mancando, entra na fila e pede um refrigerante grande para a esposa e os dois filhos, para depois ficar mandando o filho voltar e encher. É claro que se esse restaurante encher de brasileiros, vai virar um caos. É o que nós temos aqui na nossa terrinha, um caos jurídico. Você pega um livro de Direito Civil das Obrigações, e é ridículo, praticamente toda a matéria é lógica, chega quase a ser matemática. O Direito das Obrigações, para você que não sabe, é aquele que regula as interações sociais de ordem econômica, é você comprando chiclete na lojinha do Seu Antônho, e a partir daí um rol de situações que podem vir a ocorrer.
O que eu quero dizer, meus caros leitores, é que o problema jurídico brasileiro não está na doutrina. Está no brasileiro. Tanto os brasileiros civis que querem sempre levar vantagem um em cima do outro quanto nos juristas brasileiros, que querem levar vantagem em cima dos civis. É até questionável essa reprimenda que as pessoas tem em cima dos políticos, eu diria. Para você ver, a nossa Justiça é tão apurada, que cumpre à risca o preceito eleitoral: nós temos no poder gente igual...à gente! Digo, o sistema político é representativo. E quem mais cabível para representar o povo brasileiro do que... gente safada? Qual melhor representação podemos ter na presidência do que um presidente ignorante...no seu segundo mandato? Vocês vêem o que eu digo? O brasileiro tem essa necessidade de apontar as faltas alheias com o dedo, mas ele nunca pára para se perceber. É por isso que continuamos com esses representantes incompetentes, desde os políticos batedores de carteira e eleitoreiros até os ministros do STF, STJ, juízes, você escolhe, que fazem favores uns para os outros, adiam julgamentos, atrasam, manipulam, ou simplesmente são incapazes de produzir uma sentença justa.
O que esse país precisa não é de uma revolução jurídica, é de uma revolução individual, de uma conscientização geral.
Mas sei lá. Isso é só um blog, eu tenho só 18 anos, e estou na página 1034 do meu livro. É chato reclamar do que não se conhece. Vai ver, eu só quero fazer um pouco de barulho.

Um comentário:

  1. " O que esse país precisa não é de uma revolução jurídica, é de uma revolução individual, de uma conscientização geral."

    Falou tudo, com esmero e sobriedade, bravo! Eu mesmo não descorreria um texto tão completo e tão subjetivamente complexo! parabens, continue sempre assim, Ownando, ow \o/

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