sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Tipo sexta, ou tipo segunda.

Acordo.

Olhos ainda fechados, estendo a mão e procuro o celular. Duas em três vezes, ele não está onde minhas mãos pensavam que estaria. Pequena primeira frustração, mas moedas de 1 centavo também enchem cofres. Abro os olhos e localizo-o, embaixo de uma pilha de outras coisas inúteis que eu não sei como foram parar em cima dele. Com cuidado, puxo-o para mim; com estrondo, coisas caem no chão.

19 horas de um dia que eu não sei qual é. Pode ser segunda ou quinta-feira ou qualquer coisa entre eles. Eu sei disso porque fui trabalhar hoje, e não me lembro de ter sorrido ao sair cartório, o que eu só faço às sextas.

Tive uma prova hoje, fiz com facilidade. O que me assusta, visto que só entendem de dificuldades aqueles que podem lidar com elas. Eu me sento, coço o olho. Na minha estante, meus livros me avaliam. Eles são reflexos da minha vida: metade deles é de ficção, metade é de Direito. E ainda assim, nenhum deles tem coisa alguma a ver com a minha alma. Tenho alguns de autoajuda também, mas são poucos. Me pergunto se não deveria adicionar alguns mais à pequena biblioteca. De qualquer forma, após tantas leituras, de que adiantam minhas opiniões formadas, que mesmo se forem continentes imensos e sólidos, flutuam à deriva num oceano mil vezes maior? Não há nada que eu possua de que não possa me desfazer.

De volta a mim, me levanto. Meus olhos encontram meu mural de fotografias. Eu sempre me esforcei para mantê-lo sincronizado com a minha vida, com fotos recentes e rostos familiares. Não surpreende então percebê-lo vazio. Um dia ele já foi cheio, mas prometi a mim mesmo atualizá-lo. Removi todas as fotos, então, mas ainda não pude selecionar novas para revelar. Ele está num entre-tempo, assim como a minha vida. Suponho que não falhei em mantê-lo sincronizado, portanto. Talvez eu precise de ajuda para voltar a povoá-lo, não sei.

Já é de noite, o dia me escapou por entre os dedos. O que fazer agora? Ainda não malhei, ainda não estudei, não tenho encontrado tempo para essas coisas ultimamente. Onde tenho gastado meu tempo? Não ligo TV, meu videogame já está empoeirado. O que ando fazendo? É essa a época dourada da minha vida?

Um amigo me disse que haveria uma competição de poesia, chefiada pela Academia Amazonense de Letras. Por dentro, morri de vontade de participar. Não posso, entretanto, evitar lembrar que mentes instáveis como a minha não produzem versos coerentes. Já fui subjugado antes mesmo de pousar a caneta no papel. Desisto sem tentar. Eu sei que a pior classificação é nenhuma em absoluto, mas existe um placebo em não competir. Que, pensando bem, é como tenho me medicado nos últimos 20 anos ou tanto.