quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sou só eu, ou você também está se sentindo próximo ao fim do mundo?
Digo, ultimamente, para onde eu olho, está se falando em Apocalipse. Ligo minha TV para assistir Supernatural, e os irmãos estão correndo de um lado para o outro porque o Apocalipse está chegando e o Diabo está em plena atividade, fazendo a social completa, com direito aos Quatro Cavaleiros e tudo. Pego um livro e estou lendo A Estrada, onde o Apocalipse já passou, todo mundo já queimou e fazer a barba é luxo. Banho então é ostentar. Ligo o video game, e o Kratos está matando Deus por Deus, levando o mundo ao seu incontestável fim. E nesse ritmo, vou parar de ir ao cinema,pois um dos maiores sucessos do ano passado foi 2012, e eu não preciso nem dizer que não sobra pedra sobre pedra nesse filme, certo? Fora os filmes em que há epidemia de zumbis. E explosões nucleares. Ou pior do que nós caminhando por cima dos crânios de nossa raça flagelada pela hecatombe derradeira e condenados à danação eterna, é saber que Sex and the City 2 daqui a pouco estreará no cinema mais próximo. Oh Deus, proceda logo aos ritos finais da Bíblia e poupe-nos dessa última provação!
Agora mesmo, acabei de assistir ao filme Legion onde, adivinhem, o mundo está estourando no Apocalipse. Diferentemente do resto da nossa produção cultural, no entanto, no filme nem se fala em demônios. No filme, são anjos que se apossam dos corpos humanos e iniciam a contagem regressiva da raça. O anjo Gabriel comunica ao anjo Michael (que aqui se rebela também) que o fruto da ordem que deu início à esse dia D saiu da primeira cadeira de comando, isto é, foi Deus mesmo. O Diabo estava tranquilo curtindo esse calor infernal, espairecendo aqui por Manaus de sunga verde-limão, sem ter nada a ver. Deus que se cansou dessa desgraceira humana mesmo.
Mas eu não o culpo. Fosse eu assistindo esse auê todo, já tinha era eu mesmo jogado a bomba; ia montado nela até. Digo, olhem atentamente ao nosso panorama. Deus vêm, monta com as próprias mãos o primeiro boneco de massa e o chama de Adão; logo lhe dá uma companheira para que ele não precisasse gastar mais tempo na cozinha. Deus dá tudo o que as pequenas mentes de Adão e Eva jamais poderiam assimilar de bandeija, com uma, UMA simples ordem, e qual é a primeira coisa que Eva faz quando Deus se vira para jogar Pinball no Windows? É, vocês já sabem. E agora, quando menos se espera, você olha para o lado e tem 7 machos, tudo 1,80, macetões, em plena faculdade de Direito, jogando dominó e cantando Justin Bieber. Baby, baby baby.Sem falar que existe gente que acha que Crepúsculo passa perto de ser literatura. Não sei se você já percebeu,mas Manaus não tem elite cultural. A única elite que nós temos são os excelentíssimos protótipos de aborto que se vê por aí no Café Cancun de camisa pólo listrada. Ahazzando _/,,/.
Sério, que fracasso. Mas fora isso,e mudando o rumo desse post, eu acho plausível esse sentimento de fatalidade geral, deveras interessante na verdade. Acho que lá no fundo, as pessoas se sentem desconfortáveis com essa prospecção digital acelerada. Digo, não existem mais fronteiras, e a informação agora viaja de carona com a luz. A sensação é de que tudo está sendo jogado em todos ao mesmo tempo, não há mais ninho sagrado, não há tempo para descansar, não há mais assunto que não se possa abordar. E no meio disso tudo, o ser humano, irrisório como ele só. Aliadas à isso, eu tenho a impressão de que sempre que olho afora da janela, vejo prédios trilhando seu caminho em direção ao céu, como a curiosidade humana que se ergue acima dos grandes segredos. E no fim disso tudo, eu simplesmente creio que o ser humano não foi feito para algumas respostas; acho que nós simplesmente não somos capazes de lidar com certas razões.
Sou do tipo que crê que a coletividade humana necessita de mistério. Tão intrínseco à nossa vontade de conhecer está a nossa necessidade por ignorância. Ponto e contraponto que faço à minha teoria é o sentido perpendicular que damos a Ciência e à Religião. Suponho que não fosse a importância que damos ao conhecimento pioneiro, não iríamos nos preocupar tanto com esses pontos-de-vista. Mas como hoje temos muito no que pensar e nada à que concluir, nada mais justo do que atearmos chamas ao mundo e vê-lo arder de novo e de novo, não?
Bom Fim de Existência para você, caro Leitor.

sábado, 24 de abril de 2010

Haroldo no País da Alice

Na última série de terças-feiras, fiz meu caminho às mãos de um livro. Perguntou-me ele se eu era mais um entusiasta das ciências, enquanto tomava seu chá. Respondi-lhe que sim,claro, ser algum pode renunciar da luz das ciências. Ele me perguntou como estava o tempo lá fora. Eu disse que meio nublado, com jeito de chuva. Meio nublado OU com jeito de chuva?, ele perguntou. Bacon, eu respondi. Definitivamente bacon.
O parágrafo anterior é o tipo de lógica que você encontraria nos livros de Alice (Alice in Wonderland e sua sequência, Through the Looking Glass). Eu nunca tive curiosidade real de ler os livros, mas com a aproximação do filme e a minha namorada sendo uma grande fã da série, finalmente me chegou a oportunidade de lê-los. E que surpresa eu tive.
Os livros foram escritos entre 1860/1870, pelo inglês Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson), um meio pedófilo e completo maluco. O livro é uma crítica à profunda busca pela razão da época e a influência que isso produzia nas crianças pequenas; era ainda mais uma leitura deliciosa sobre a visão das crianças sobre os modos e costumes adultos. Alice, uma garota de 7 anos, arruma viagens à outras dimensões, e os livros basicamente contam os encontros que ela trava com criaturas e seres estranhos e únicos. Sempre assim se desenrola a história, encontro por encontro, conversa por conversa. Nesses mundos, a lógica (posso assim me referir?) corre de maneira incongruente. Os personagens que Alice vêm a encontrar são todos adultos,humanos ou animais ou cartas ou xadrez ou nada disso, e parecem quase sempre querer irritá-la ou desdenhar de suas maneiras. Temos então temas que correm nas mais distintas direções. Nunca é possível se ler as entrelinhas.O máximo que se pode conseguir é atribuir sentidos.
O sentido da obra é fugidío. É um clássico da literatura non-sense e, claro, da literatura infantil. Não que as crianças à quem os pais lêem as histórias entendam alguma coisa. Inferno, não que os pais entendam alguma coisa. Carroll faz uma referência aqui outra ali, uma lição aqui outra ali. Mais parece uma coleção de ensaios, suas obras, que histórias de verdade. Mas o que nós temos na verdade é uma bíblia da própria introspecção.Digo, o ser humano tem necessidade por encontrar lógica nas coisas. Não podemos ver uma coisa diferente sem procurar nomeá-la, estudá-la e categorizá-la. Diabos, até o crime já categorizamos, o que mais pode faltar? É quando Lewis dá seu grande chute no saco do mundo. Sua obra tem sido estudada ao longo dos séculos por mais cientistas, matemáticos, sociólogos e sabe-tudos-em-geral do que você pode contar, e todos eles trazem alguma coisa à baila. Todos eles acham coisas novas. Mas é isso que o livro é, um estímulo ao próprio raciocínio à partir do choque. É uma grande página cheia de pontos, e você pode conectá-los da forma que bem entender. Oras,coisas novas estão destinadas serem achadas a cada vez que se lê.
Temos momentos clássicos em que a construção textual de Lewis, o simples modo como ele organiza suas palavras, nos deixa mesmerizados. Temos momentos em que a história é tão bem orquestrada que ela ribomba nos nossos pensamentos e somos deixados à simplesmente imaginar o que ele quis dizer com isso. Temos personagens geniais, como o gato de Cheshire e seu sorriso sombrio de orelha a orelha. Temos a rainha de Copas, que NÃO é a Rainha Vermelha, e que pede decapitações como eu bebo coca-cola. Temos o próprio Humpty-Dumpty em sua irrefutável sabedoria gramatical. Temos as intrínsecas análises sociais onde tribunais são satirizados e organizações políticas compostas por animais falantes; o presidente é um rato.
Eu tenho um personagem favorito em especial, e que pouco é comentado e nunca mais citado: o Grifo. Personagem oriundo de “O País das Maravilhas”, a Rainha de Copas leva Alice até ele para que ela possa ser acompanhada até o reduto da Tartaruga Falsa. Assim que a Rainha de Copas se afasta e manda alguém ser decapitado, o Grifo sorri e se explica à Alice: “É apenas engraçado. Tudo é capricho dela: nunca executam ninguém”, ele diz, irrepreendível. Mais adiante, eles se aproximam da Tartaruga Falsa, uma espécie de sábio recluso, e Alice percebe que a Tartaruga parece estar chorando, triste. “Qual é o problema dela?”, pergunta à qual o Grifo permanece taxativo: “É tudo capricho dela: Não há problema”. (Senhores, aviso: as traduções aqui foram feitas por mim, já que nos livros aqui vendidos trocam a palavra “capricho” por “fantasia” no lugar do inglês “fancy”, tradução que eu acho imprópria e até menos interessante). O Grifo me furtou da atenção logo de começo, com seu ar sério, imponente e suas palavras sordida, explicita e quase grosseiramente reais. Ele levantou em mim o mais violento questionamento acerca das futilidades humanas. Quase como se ele chegasse para você e falasse,acerca da sua ida constante ao Café Cancun ou pubs em geral, da maneira mais fúnebre possível, “É tudo capricho seu: não há diversão em boates”. Gente,eu grito à plenos pulmões, OQUEVOCEIAFAZERDASUAVIDA?
Isso quase me deu vontade de mudar o nome do meu blog para Grifo ou algo do gênero, o quê, na minha visão, seria deveras apropriado, não? Mas por imperativo estético, eu creio que nadaDireito é mais interessante.
Alice adquiriu a imortalidade, transcendeu o tempo. E eu acho que essa é mais uma obra que não é apreciada como deveria. Digo, eu acho que todo aficcionado por leitura deveria ter uma edição descansando na sua estante. Eu disse antes que Lewis era meio pedófilo e completamente maluco, mas isso foram preliminares. Lewis era autor, matemático,filósofo sobre a lógica e até fotógrafo. E você aí chupando o dedo indo pro Café Cancun, amassando né? Dizendo que só quer ler Machado de Assis e Shakespeare, nunca entendeu uma palavra.
Mas eu peço encarecidamente dos senhores o seguinte: desconsiderem o filme que chegou recentemente aos cinemas, obra infame e desqualificada do Tim Burton. Sério, o filme é um fracasso. Poderia muito bem se chamar Alice no País de Nárnia, ou algo assim. Alice no País dos Roteiros Repetitivos. Alice no País da Péssima Atuação do Johnny Depp. Alice no País do Vacilo, sei lá. Apenas mantenham isto em mente: O filme não tem bulhufas que ver com os livros consagrados.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Confusão Constitucional

Certas coisas, eu não entendo.
Não entendo, por exemplo, por que eu continuo tentando passar no Exame de Direção, visto que já está plenamente óbvio que o DETRAN só vai me fornecer uma carteira B quando eu tiver competência e habilidade notável na operação de naves espaciais. Não entendo por que diabos o nintendo Wii vende tanto se qualquer um com meia capacidade cognitiva sabe que ele é um fracasso. Mas o que eu não consigo entender mesmo é o nosso poder judiciário.
Amanhã terei prova de Direito Constitucional, matéria ministrada pelo prof. Yuri Dantas, homem que apesar da extrema sapiência em matéria jurídica, eu admiro ainda mais pela paciência de ter chegado tão longe em Eternal Sonata, para Play Station 3. Digo, a matéria do Poder Judiciário está pacificada na doutrina. As competências, a administração, os órgãos, tudo. Está tudo lá. O Poder Judiciário está em perfeita harmonia formal.
Mas ainda assim, a sua execução é um fracasso. A Constituição, por exemplo, prevê andamento célere nos encargos processuais, e ainda assim, nossos processos são obras quase hereditárias, se é que você me entende. O Amazonas Shopping te manda pagar o maldito ticket de estacionamento,e então, próxima coisa que você sabe são 5 anos no tribunal, o Supremo Tribunal Federal todinho às voltas com a matéria, o Gilmar Mendes coçando o queixo e o processo ainda na justiça.
Bem, hipérboles à parte, o Poder Judiciário não é o problema, nós sabemos disso. A Constituição não é o problema, de igual modo. Digo, abra-a e perceba como ela é linda e completa. Completa até à exaustão, eu diria. Perceba você, caro leitor, que o problema não está nesta obra brasileira, mas no brasileiro em si. Digo, o brasileiro existe para estragar suas melhores obras, já perceberam? O brasileiro tem toda uma bíblia jurídica de proporções magníficas, de uma abrangência panorâmica, e ainda assim vai para o tribunal porque intimou o vizinho a não erguer o muro à certa distância, e o filho da puta foi lá e ergueu a porcaria do muro mesmo assim. Digo, brigamos por batatinhas aqui, você me entende? O brasileiro é dotado de uma falta de educação, de uma necessidade por levar vantagem, que é sem precedentes. É quase imundo, por vezes. Se o mundo fosse um fast food, os países ricos seriam aqueles que entram na fila e pedem um refrigerante grande para toda a família, mesmo sabendo que eles podem pedir refil quando bem quiserem. O brasileiro é aquele que estaciona na vaga de deficientes do lado de fora, manda o filho sair mancando, entra na fila e pede um refrigerante grande para a esposa e os dois filhos, para depois ficar mandando o filho voltar e encher. É claro que se esse restaurante encher de brasileiros, vai virar um caos. É o que nós temos aqui na nossa terrinha, um caos jurídico. Você pega um livro de Direito Civil das Obrigações, e é ridículo, praticamente toda a matéria é lógica, chega quase a ser matemática. O Direito das Obrigações, para você que não sabe, é aquele que regula as interações sociais de ordem econômica, é você comprando chiclete na lojinha do Seu Antônho, e a partir daí um rol de situações que podem vir a ocorrer.
O que eu quero dizer, meus caros leitores, é que o problema jurídico brasileiro não está na doutrina. Está no brasileiro. Tanto os brasileiros civis que querem sempre levar vantagem um em cima do outro quanto nos juristas brasileiros, que querem levar vantagem em cima dos civis. É até questionável essa reprimenda que as pessoas tem em cima dos políticos, eu diria. Para você ver, a nossa Justiça é tão apurada, que cumpre à risca o preceito eleitoral: nós temos no poder gente igual...à gente! Digo, o sistema político é representativo. E quem mais cabível para representar o povo brasileiro do que... gente safada? Qual melhor representação podemos ter na presidência do que um presidente ignorante...no seu segundo mandato? Vocês vêem o que eu digo? O brasileiro tem essa necessidade de apontar as faltas alheias com o dedo, mas ele nunca pára para se perceber. É por isso que continuamos com esses representantes incompetentes, desde os políticos batedores de carteira e eleitoreiros até os ministros do STF, STJ, juízes, você escolhe, que fazem favores uns para os outros, adiam julgamentos, atrasam, manipulam, ou simplesmente são incapazes de produzir uma sentença justa.
O que esse país precisa não é de uma revolução jurídica, é de uma revolução individual, de uma conscientização geral.
Mas sei lá. Isso é só um blog, eu tenho só 18 anos, e estou na página 1034 do meu livro. É chato reclamar do que não se conhece. Vai ver, eu só quero fazer um pouco de barulho.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Noite e Sono

Um copo cheio de leite. Leite puro, branquinho. Bem do lado da janela, em cima do parapeito. Sentado na minha grande poltrona amarela, o meu olhar páira da janela, etéreo por esse reino todo que não é meu. Corrido de boca alheia que leite combate insônia, eu protesto. Cogitar que pode a minha própria mente pregar tão cruel brincadeira... Tenho uma vida me esperando amanhã, tenho uma vida da qual me despedir hoje, essa é uma ponte que eu preciso atravessar. Inda sim, me sustam as pálpebras, que me arremetem à mil dilemas quando fechados.

Um gole aqui. A noite está trancada atrás das nuvens impassíveis, eu não consigo espiá-la. Tudo à minha frente é uma única cor melancólica. Nuvens de chuva. Opacas como como desaforos. Sinto-as como papéis de parede excêntricos numa casa enlutada. As luzes da cidade parecem tolas. Não adianta olhar o relógio. Eu puxei a tomada, eutanásia temporal. Navego agora num mar cinzento sem tempo nem rumo. Quanto tempo faz que estou aqui? O leite quente já está frio. Desliguei o relógio pouco depois de meia noite. Estou aqui há mil anos. Estou velho e pesado, cansado.

Um gole mais. Eu esvaziei a caixinha de leite. Egoísmo meu, não tem mais para o café da manhã de quem precisa. Demorei para entender que o que eu achava ser necessário, nunca em nada me acrescentou. Fiz furtar de quem precisava de verdade.

Um gole ainda. Deus não permita que eu esteje aqui para saudar o Sol quando ele também despertar. Ele trás preocupações e ocupações de um alguém que ainda não sou eu.

Um gole então. Tem rum na despensa. Talvez, se eu impugnar este copo quase vazio com ebriez, eu encontre uma saída do labirinto que se tornou esta noite. Mas que homem seria eu, fugisse dos meus problemas me escondendo atrás de venenos?

Um gole. Se este quarto não tivesse janela, poderia chamá-lo alcova. Faz sentido dizer então que ele é apenas minha cova?

Acabaram-se os goles, finalmente esgotaram-me os recursos. E agora? Para onde correr?

terça-feira, 13 de abril de 2010

3 A.M.

Ultimamente eu tenho estado... Perturbado.

Acho que o Stress invadiu a cabine dentro do meu crânio e chutou de lá a Diligência... Dores de cabeça crônicas. A eterna sensação de não estar de verdade nos lugares, de assistir tudo alheio, como se eu fosse a minha sala de cinema, entende? A minha vida é um filme, e eu odeio praticamente todos os personagens. Por vezes, sinto-me torpe.

Tem horas em que eu gostaria só de dar um soco na pessoa mais próxima. Droga, cara, vocês já viram a quantidade de cabelo branco de que eu disponho? Estou agora sóbrio ou ébrio, quem saberia dizer? Problemas de concentração, problemas de relacionamento, a única coisa em que eu tenho sido bom é em levantar peso. Me pediram para participar do campeonato de supino que ia ter na academia, mas eu tenho andado tão perdido no tempo, que dia é hoje? Hoje eu fui para a faculdade, significa que meu leque é composto por cinco opções. Ou será que eu fui ontem? Deixa pra lá, confundiu-se tudo,e além do mais, eu nem participaria; arrumasse briga por lá, esses malucos todos me dobrariam como seu eu fosse um origami.

Então eu sento na frente do computador,cabeça latejando, pensando no que criticar em seguida.Porque ninguém vêm aqui ler o que eu falo dos livros, de qualquer maneira. Querem ver qual é o próximo conceito social que eu vou chamar pro ringue. Procurar um motivo para me odiar. Jovem é assim hoje em dia, bocetas de virtude ambulantes, despidos de defeitos . Pára pra pensar. Todos procuram se levar muito à sério hoje em dia, parece que ninguém mais tem senso de humor. As árvres somos nozes, seus filhos da puta. Mas quando eles perdem essa compostura, não existe meio termo, são todos estúpidos.

Eu ficava contente só de escrever. Mas agora nada me surge na cabeça, as vozes dentro dela estão falando alto demais, xingando tudo ao mesmo tempo, então eu não sei. É o Slayer todinho entre o meu lobo frontal e o occipital, mandando ver. Eu sento por aí, alheio, e as pessoas acham que eu estou meditativo,boçal, mas na verdade eu estou tentando não ofender alguém. Mas não se preocupe, o problema não está em você, está em mim.

O problema é que eu passei muito tempo desenvolvendo um senso crítico apurado, e agora ele está desregulado. Como uma porca que a gente aperta demais e acaba trincando. Antigamente, era como se eu visse alguma coisa e pensasse “Por quê?”. Hoje, eu sou tipo “Por quê? Vá à merda”. Como se eu tivesse que questionar para viver. E as pessoas às vezes acham incômodo essa minha mania de tentar criticar tudo ao meu redor, e acham que eu tenho rancor delas. Eu entendo. Mal sabem elas que quem tem rancor delas não sou eu, mas elas. O erro, afinal, está nelas. Como um ladrão que vê suspeita na cara de qualquer um, porque sabe que é culpado. Eu desperto paranóia alheia, às vezes.

Mamãe checou o meu quarto, mas eu não estou lá. É madrugada, e eu estou no seu quarteirão, de capuz, com um gancho numa mão e uma faca de cortar pão na outra, fingindo que estou mancando e resmungando sozinho,gesticulando e tudo. Eu acho que preciso me dedicar a alguma atividade saudável e acéfala para relaxar. Vou fazer...Tricô. Sei lá. Vou fazer dança. Vou ser avaliador de prova do DETRAN. Algo que não exija absolutamente nada de capacidade cerebral ou habilidades sociais de todo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vá pra Quinta das Entrevistas!!


Senhoras e senhores, esta semana temos uma convidada muito ilustre aqui no Blog nadaDireito! Famosa no mundo todo pela sua personalidade e seu guarda-roupa bizarros, a artista que vendeu 10 MILHÕES de CD’s enquanto você estava trancado no quarto escutando Susan Boyle e achando que tava amassando, diretamente aqui falando diretamente comigo diretamente para Manaus, srta. Stefani Joanne Angelina Germanotta, ou Srta. Marmotta para os íntimos, também conhecida como LADY GAGA! E então Srta. Marmotta, é um prazer estar aqui?
SJAG/Srta.M- Na verdade, é Germanotta...
H- Ah, me desculpe, me desculpe. Srta. Germarmotta, é verdade que...

Srta.G- Ahn, que tal me chamar só de Lady Gaga?

H- Bem, é melhor assim, de fato. Mas venha cá, algum parentesco com a Gaga de Ilhéus, Dona Gaga?

LG- Ahn, não, mas eu amo meus fãs como se fossem meus irmãos de outros pais. Obrigada, srta. De Ilhéus! *bate palmas com sorriso idiota*

H- Na verdade, eu não acho que...Bem, deixa pra lá. Dona Gaga, de onde a srta tirou esse nome artístico que agora está na boca do povo?

LG- Bem, Haroldo, esse nome eu tirei daquela música do Queen, Radio Gaga. Eu era muito fã dessa banda quando mais nova e tudo...

H- É mesmo é? Ah, eu me lembro...”All we hear is, Radio Gaga, Radio Gugu...”, aquela música sobre a maneira como a televisão estava tomando o lugar do rádio, correto? Muito boa a música. Um dos últimos sucessos da banda e tudo. Pra dizer a verdade, acho que tínhamos um apresentador que seguiu a sua idéia de tirar o nome dessa música...Só espero que a senhora não enverede pelo caminho dele. Mas diga-me, Dona Gaga, posso lhe fazer a pergunta que deve estar na boca do público?

LG- Bota pra dentro ;)
H- o_o? Enfim, o que diabos tem a ver o Queen com você?

LG- Bem, a música é bonita, e tem essa coisa da mídia em cima do nosso trabalho e tudo, sobre o “Só o que nós ouvimos é Radio Gaga..”, sabe? Lady Gaga? E fora isso, meu produtor dizia que eu lembrava o Freddy Mercuri e tudo.

H- Ah, a não fui informado que a srta tinha AIDS!
LG- Não, não, o jeito de cantar! (risos)

H- Ah, claro. É. Talvez. Atrás do ventilador,quem sabe. Bem, conte-nos um pouco da sua história, Dona Gaga.

LG- Bem, não tem nada de muito diferente na minha vida... Cresci numa família bem católica, fui dedicada e estudiosa durante o meu Ensino Médio, embora meus amigos sempre dissessem que eu tinha um jeito diferente e provocativo, que eu tentei diminuir e tal...Enfim, aprendi a tocar piano aos 4...

H- Quer dizer que de 4 você já dava umas boas dedadas?

LG- Sim,sim. Aprendi com 4, escrevi minha primeira balada aos 13, aos 14 já me apresentava em Open Mic Nights,aos 17 entrei na faculdade Tisch School of Arts de Nova Iorque...
H- Po##@, desse jeito vai me dizer que se aposentou aos 23. Que vida agitada.

LG- Pois é... em 2005 fui contratada pela Def Jam Rec. , depois que eles me ouviram cantando na rua por dinheiro. Depois fui despedida. Aí veio um período muito ruim na minha vida, sabe? Por algum motivo, meu pai católico parou de falar comigo depois que eu comecei a usar dorgas e me apresentar por ai só de fio-dental...

H- É né. Pai porra-louca.
LG- Né? Sei que saí de casa, larguei minha família toda, aluguei um apartamento do jeito que pude e comi merda até que alguém me ouvisse.

H- Bem, talvez se você ingerisse menos excrementos e realmente cantasse alguma coisa, tivessem te achado mais cedo?

LG- Ah, mas essas idéias boas nunca são tão simples no momento, né?

H- ...É.

LG- Enfim, depois comecei a trabalhar na Famous Music Pushing, e vivi pertinho de gente famosa, escrevendo músicas para gente como Britney Spears, Madonna, Fergie, Pussycat Dolls...

H- Ah é sério? Que maneiro. Mas você não acha que o seu talento talvez tenha sido furtado pelas músicas desses outros artistas? Digo, as músicas que você escreveu para eles eram boas mesmo?
LG- Ah, nada demais Haroldo, só Womanizer, Hung Up, Big Girls Don’t Cry, Buttons, essas bobagens…

H- *Se engasga com a água*

LG- Enfim, depois desse período de, digamos assim, “Estágio”, eu finalmente tive a chance de gravar CDs e tudo e hoje estou cagando dinheiro! (sorriso)

H- Hum...Diga-me uma coisa, Lady Gaga,mudando de tópico; e essas suas roupas extravagantes? Essas coisas enfeitadas, cheias de paparicos e brilhantes? De onde você tirou esse tipo de coisa?

LG- Sabe, Haroldo, é que eu acho que a expressão musical deve sempre vir com algo mais, como no meu caso é a moda. Digo, quando você me vê, eu estou sempre me expressando verbalmente,só que com esse diferencial estilistico, então isso me ajudou muito a criar um diferencial.

H- Realmente, outra fêmea branca loura platinada fazendo sucesso é tudo precisa de algum tipo de diferencial...

LG- Pois é. Mas eu quero deixar claro que procuro dar uma significação à todas as minhas roupas, procuro sempre me vestir de maneira a expressar o meu pensamento.

H- Aposto que sim. Aposto que você todo dia você pensa numa grande causa mundial, como o Meio Ambiente, e rapidamente manda confeccionar um vestido de urtigas ou folha de bananeiras ou algo que o valha, pra depois sair dançando por aí, e eu tenho certeza que você sempre explica detalhadamente a epistemologia de cada uma de suas vestimentas para suas fãs cultas.

LG- Isso é o que faz da Lady Gaga a Lady Gaga! ;)
H- Anham, da mesma maneira como você deve estar SEMPRE de óculos porque eles fazem parte do figurino e da imagem toda, e não porque você é FEIA PRA PO##@ sem eles, correto?
LG- Ahn...

H- Outra coisa, senhorita Gaga, por que a senhorita não começa a malhar? Essas coxas de galinha aí totalmente perderam a graça depois que você dividiu o espaço com a Beyoncé...

LG- Pra quê, querido? Existe Photoshop é pra isso mesmo!

H- Ah sim...Então, Lady Photoshopada, digo, Dona Gaga, uma última pergunta. Eu já vi que no seu twitter a senhora chama os seus fãs de Monsters, né? Por que isso? Por causa do gosto musical deles, do jeito de se vestirem ou da feiura mesmo?
LG- Não não, é porque eu acho que todos nós devem ser pequenos monstros, isto é, únicos e originais. Você me entende?
H- Não. Mas enfim, é isso minha gente, o nosso tempo acabou, e essa foi Lady Gaga com vocês. Algo que você queira dizer à seus fãs, Dona Marmotta?
LG- Bem, meus fãs, eu acho que,,,

H- Obrigado! E voltem sempre, agora toda quinta-feira com uma entrevista nova e diferente no Blog do Haroldo, nadaDireito!

domingo, 4 de abril de 2010

O Eu no Campo de Centeio

Um livro encontrou seu caminho às minhas mãos ontem. Um livro que minha mãe me prometera a um tempão, tinha lido boas críticas em algum lugar, e desde então dissera que eu o teria. Nunca seu nome me despertou interesse, nunca pensei nesse livro ou fiz pesquisa qualquer sobre o tal. Tratei de ignorar sua eminência o tanto que pude. Mas sua história atingiu meu peito como um projétil implacável. O livro vai pelo nome de "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger.

J.D. Salinger foi um sujeito que escreveu até certo ponto e tornou-se um recluso. Isso mesmo. Fez sucesso, esta sendo seu Magnun Opus, e decidiu da noite para o dia que não publicaria mais nada. Trancou-se em sua casa e passou a escrever para si, apenas. Morreu, e deixou de pronto que produção alguma sua deveria ser publicada, do seu período pós-reclusão isto é. “Escrever pode ser muito bom, mas ler nunca é”, palavras suas. J. D. Salinger foi um gênio.

O Apanhador no Campo de Centeio abre com o desabafo de um jovem, e ao passo que ele promete nos contar algo que lhe aconteceu recentemente, ele diz que vai nos contar sua vida. Não que a vida dele seja interessante ou diferente, ele desconversa, mas é que esse tipo de coisa você precisa saber né? A prosa sempre desse jeito, como se o autor conversasse com você. Ele usa gírias, jargões e tem uma maneira própria de pensar.

Ele é um jovem problemático, um mentiroso compulsivo e um inseguro. Ele é incapaz de externar suas idéias mais sinceras, recorre sempre à um padrão social pré-definido e se encontra numa escola rica e de altos estandartes. Ele é um infeliz. Seus companheiros principais são o rapaz mais estranho e perturbardo da escola e o mais popular. Logo fica óbvio para o leitor sagaz que ele prefere o rapaz desajustado. Algumas pessoas não nasceram para andar com os mais populares, mas elas demoram para se dar conta disso. E ‘preferir’ aqui significa “Ter menos dificuldade para suportar”. O fato é que ele não se encaixa. Ele já está reprovado de ano, e a escola já o expulsou; ele está só esperando o final do período letivo para voltar para casa, para seus pais furiosos.

Em poucas páginas, Salinger cuida de destruir o rapaz. Uma pequena paixão infantil que ele tinha, ele fica sabendo, vira alvo da vulgaridade sexual do seu amigo popular, dentro de um carro; seu amigo mal sabia o nome da garota. Revoltado com a capacidade dos jovens de serem ridículos e mexerem com coisas que não compreendem, ele entra numa briga com o rapaz, e claro, perde feio. Ele vai procurar abrigo no outro amigo desajustado, mas este também é insensível demais, e ele se vê obrigado a fazer as malas e abandonar o colégio mais cedo.

Logo ele percebe que não tem amigos para quem ligar, e as pessoas que poderiam atendê-lo não o fariam. O maior conforto que ele conseguiu foi uma mulher desconhecida no metrô, que lhe administrou doses mínimas de carinho, e um taxista indiferente, mas que também foi o único que não lhe mostrou agressividade.

Este é um livro direto, um livro flamante, um livro sutil e acima de tudo uma obra-prima. O final eu estou por conhecer, mas eu evito prosseguir na leitura com medo de fatalmente terminá-la, e esse jovem me chamou a atenção. Afinal, quem já não teve a vontade de partir permanentemente no meio da noite gritando
Durmam bem, seus imbecis!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

E a Mentira e a Verdade e o Haroldo

Eu não entendo essa fixação do brasileiro com o dia da mentira. Digo, todo mundo quer pregar um trote no dia Primeiro de Abril. Cara, são milhões de pessoas que mentem 365 dias por ano, de maneira frenética, e quando chega no Dia da Mentira, se empolgam porque vão poder mentir. Ligam para alguém, passam trotes, bolam pegadinhas, todo mundo querendo ser mais esperto que todo mundo.

Deve ser porque ninguém pode deixar transparecer suas mentiras nos outros dias do ano, então quando chega esse dia, eles ficam contentes por poderem mostrar suas cores verdadeiras. Digo, essa paixão que os seres humanos têm pela subversão é fascinante. Quem não se empolga com a possibilidade de fazer qualquer coisa e sair impune? Pode até ser que eles nunca venham a se aproveitar dessa concessão,mas todos se empolgam com a idéia.
Mas ontem eu não me empolguei. Não tentei fazer um trote com ninguém. Porque aos 18 anos, eu já sei que a mentira está fora de moda, o resto das pessoas é que não se deram conta ainda. Ah, a mentira é a esposa do homem. Está com ele 24 hrs por dia. Está sempre para ele na sua cama. Então, como é de se esperar, o encanto que ela apresenta é muito pequeno. A Verdade, por outro lado, é a amante. Ela só está do lado do homem eventualmente. É sempre mais empolgante estar em posse da Verdade do que da Mentira.

Mas essa crença é apenas mais um estágio na digreção humana. No decorrer da vida, o homem vai enxergando as entrelinhas das coisas, e depois as entrelinhas das entrelinhas, e assim adiante. Logo mais, você aprende que Verdade e Mentira são os mesmo lados da mesma moeda, e que às vezes a diferenciação entre os dois pode ser meramente teórica, logo mais o que você chama de verdade pode ser mentira tão facilmente quanto o que você crê que é mentira pode ser verdade. Por exemplo, eu ajudei uma criança pobre na rua, dei-lhe roupas e alimentos. Eu sou uma pessoa que se preocupa mais com os outros do que comigo, certo? Totalmente altruísta. Verdade. Mentira. Eu me sinto bem ajudando alguém, então o bem que eu fiz foi mais para mim do que para o outro. Ele eventualmente vai regressar à situação de miséria de antes. Mas eu vou me sentir super legal para sempre por causa disso. Você consegue enxergar? Tudo o que é de mais sólido se desmancha no ar.

Não existe tal coisa qual uma boa pessoa, não existe tal coisa qual a certeza. O que existe são algumas poucas hipóteses. Eu entro na sua casa e mato você à facadas, eu sou completamente cruel? O quê, vai dizer que você em contrapartida é completamente bom?

Eu sento na minha poltrona em casa com uma expressão pétrea de desgosto, a mão segurando a testa, a testa segurando as idéias, a boca contorcida de forma que quase parece um M, os olhos são dois pontos brilhantes cavadas na superfície indiferente. E eu me pego me prometendo que nunca mais vou fornecer segundos do meu tempo precioso à teorização de coisas tão absurdas quanto valores humanos.

Você poderia, em certa instância dizer que o Haroldo não passou pela terceira vez no teste de direção porque não sabe fazer balizas, e eu ficaria contente com essa mentirinha. Mas eu sei que a verdade é infinitamente pior, porque o Haroldo não passou pela terceira vez no teste de direção porque, apesar de todo instrutor que já tenha entrado com ele no carro concordar que ele dirige impecavelmente, apesar de ele ter provado inequivocadamente à examinadora que ele tinha mais 3 ou 4 cm de espaço, ela ainda assim proclamou que ele estava reprovado por algum motivo que ele sinceramente não compreende. Ele teria podido dormir de noite se soubesse que para passar era só melhorar a baliza. Mas é mais difícil quando ele sabe que fazer uma baliza mais perfeita é impossível, e que ele está só à espera do dia em que uma prova vai se desenrolar sem que ele seja humilhado, enganado, acusado, desrespeitado, injustiçado ou induzido ao erro.
Então de novo eu estou na minha poltrona, o olhar fundo na cara, evitando as grandes questões humanas, porque as grandes questões humanas servem apenas para mostrar a incapacidade da nossa querida raça de ser racional.

Feliz Primeiro de Abril, raça Desgraça.