terça-feira, 28 de setembro de 2010

O problema é meu, seu e de todo mundo

Estou só sentado aqui, e já estou incomodado. A cada dia que passa eu tento aperfeiçoar a minha capacidade de enxergar bem através das besteiras; através das mentiras; através do que parece simples e concreto. E eu estou só sentado aqui, incomodado com esse debate (exibido dia 26/09/10, na Record). Os políticos são belas damas que me tiram para dançar, mas eu vejo traços de venefício na beirada de cada boca.
Que belo show de demagogia. Que bela arrumação parece ter sido feita aqui quando nós não estávamos olhando. Foi só minha essa impressão, ou mais parece que houve um acordo sutil entre os debatedores para que absolutamente nada de relevante seja dito durante essa, chamemos da maneira que merece ser chamada, apresentação? Eu estou só sentado aqui, e já estou incomodado.
Olhem só, eu não quero ouvir suas propostas. O tempo para essas propostas já passou, sinto muito. Falta menos de uma semana para as eleições, e essas abstrações ficaram na última saída, à 100 km atrás. Abstrações são porque, veja bem, propostas são ficções, e das mais terríveis, e até eu posso inventar propostas. Quem não pode? Nós, telespectadores, pouco sabemos dos detalhes técnicos das coisas que vocês falam, e são esses detalhes que revelam quem está certo e quem está errado. Propostas são meio caminho andado para mentiras. E ficam vocês aí, fazendo perguntas idiotas, que ofendem a minha inteligência, de maneira ensaiada: A pergunta algo idiota para B, B responde com uma proposta (sofisma) sua, A replica com uma outra proposta (sofisma) e B termina com algum adendo bobo (\o/\o/). E fica assim para sempre até a eternidade; ninguém se compromete, ninguém se arrisca. É jogo seguro. E claro, esses 4 minutos que eles gastaram falando em propostas podem muito bem se igualar à 0, em termos de relevância ou conteúdo. É como contar o seu sonho para alguém: é irrelevante e todo mundo esquece mais cedo ou mais tarde.
Olhem, agora quem fala é a moça de cabelos negros, e a maneira como a sua vida parece ter jogado duro com ela está exposta em cada ruga de sua face. Logo se vê que ela é uma mulher inteligente, mesmo porque ela aprendeu tudo do jeito mais difícil, sem deixar que os sonhos morressem em seus olhos. Ela sabe aonde ir. A minha preocupação é que, talvez, essa moça franzina não tenha a massa para controlar as coisas lá no topo do mundo; ouvi dizer que os ventos por lá são perigosíssimos. Mas ainda assim, ela merece meu respeito, e em outras circunstâncias até mesmo meu voto.
Mas eu não tenho respeito algum pela outra mulher. Respeito NENHUM. Eu nem estou no mesmo recinto que ela, e já posso sentir o cheiro do plástico; aquele plástico extremamente industrializado, com bastante corante vermelho, que modela seu corpo. Se a outra mulher sabe de onde veio, está na cara que esta não veio de lugar algum; é uma marionete qualquer que um homem gordo e barbudo retirou da bolsa no meio da confusão. Vejam as cordas saindo de seus membros, vejam como ela se move de acordo com os dedos que as controlam. Ela é um macaquinho dançando à música do realejo do seu partido, pedindo votos com seu chapeuzinho vermelho. Eu não posso conceber dar meu voto a alguém que nunca, nunca fez nada, nem sequer está onde está por merecimento, e que visivelmente será boneca inflável do próprio partido. E isso, senhores, é uma informação que veio de dentro, e todos sabemos. Não, senhores; votar nessa mulher é um absurdo.
Olhem aquele outro tipo, sentado ali. Careca, tem uma longa história com a política, principalmente de São Paulo, e promete levar ao resto do país suas experiências. Ele é um bom sujeito, mas infelizmente tenho alguns problemas com sua filosofia. Só não voto nele porque sinto que não vivo no mesmo lugar onde mora o coração dele. Mas de resto, ele é plenamente capaz, como o são todos os que concorrem; à exceção, lógico, da patética marionete vermelha.
Felipe Neto já disse: “Esse último é um cara que está morto, mas esqueceram de lhe avisar”. Como sempre, Felipe Neto tem a propriedade e a razão de um peido solto pela metade. Este “homem-morto” está mais vivo que todos os outros juntos. Ele é quem traz alguma importância a este debate, é ele que surge com as boas perguntas e as boas respostas. Todo momento em que ele não está falando é um momento recheado com balelas. É ele quem traz o gingado e o compasso ao debate, tira os outros debatedores do conforto de suas falácias e desequilibra o jogo. Infelizmente, esse senhor de idade ainda levanta a bandeira do socialismo, e isso é o único ponto negativo: gente, sério, o socialismo já era, nós somos capitalistas, vivam com isso. Pelo bem geral da nação.
Aqui sempre se diz o que se quer fazer, mas não se diz o que é necessário fazer” Plínio A.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

É o fim da picada amazonense

Quem é Márcio Souza? É um dos mais proeminentes escritores do Amazonas. É, como se isso fosse grande coisa.

Bem, para quem não viu,o respeitabilíssimo sr. Souza teve um texto seu publicado ontem no jornal A Crítica, chamado 'Descrença'. Nesse texto, ele começa expondo sua decepção com os rumos que a nossa cidade trilha. Ele conclui a primeira parte dizendo que, mesmo apesar de quaisquer esforços políticos que possam vir a influenciar nossa Ordem Pública, a única maneira de Manaus se redimir e se tornar uma bela capital tranquila e calma é sendo aniquilada por uma calamidade pública de destruição em massa como a que abateu Nova Orleans. Então ele cita os grandes inimigos da paz pública: a bagunça, a ignorância, o desrespeito, a prepotência e a ignorância.

Ele conta, na segunda parte, como essa semana ele teve de sair à rua, experiência que por suas palavras só pode significar algo como o traverso do percurso de Dante em A Divina Comédia: Inferno. Ele se dedica a citar todos aqueles embaraços e desconfortos que uma visita ao centro da nossa cidade pode proporcionar, com a constância de verdadeiras aberrações desastrosas satânicas infernais como, por exemplo, vendedores de pamonha. E, pasmem, a praga hecatomba que faz metrópoles perdidas em conflitos de violência do naipe de RJ e SP parecerem um parque diversão: flanelinhas. Eu sou apenas capaz de imaginar a dor que aflige o humilde escritor toda vez que ele ouve o preço de uma pamonha ser gritada na rua, ou a vergonha que ele deve sentir quando um flanelinha o ajuda a fazer aqueeela baliza. Enfim, depois de um enorme, gigantesco e maceta parágrafo descrevendo, horrificado, essas situações típicas dos mais 'pobres', ele se redime (ou tenta): “Mas não são eles (os pobres) que me irritam. É a classe média, que estaciona nas calçadas, que realmente me enerva”. MAS É CLARO QUE É A CLASSE MÉDIA, afinal está na moda criticá-la, não? Logo se vê que o autor andou assistindo Tropa de Elite, difusora principal dessa filosofia. Eu também não sei que recurso literário sofisticado é esse que ele utiliza, de passar horas fazendo críticas vexatórias à alguma coisa para então mudar o objeto do discurso, subitamente, e culpar algo mais supérfluo e que o faça parecer mais socialmente comprometido, mas seja lá o que for, Márcio Souza o domina como ninguém. A partir daí, o autor prossegue para fazer aquelas críticas costumeiras e impessoais à erros cometidos pela ordem pública, coisas em geral menos comprometedoras, e que no ponto de vista dele corroboram o sentimento de descrença que ele tem.

Esse texto me deixou realmente incomodado num domingo de manhã. Oras, Márcio Souza é um escritor que ficou famoso em cima do estudo da história da região Amazônica, matéria que era utilizada nas suas obras à torto e a direito. Ele, mais do que ninguém, se fosse metade do estudioso que se supõe ser, teria um olhar mais inteligente e mais parcimonioso em cima dessas questões regionais. Ele DEVERIA entender os resultados que uma modernização acelerada causam numa cidade tão sem planejamento quanto Manaus: bagunça, senhores. Estamos ainda apenas aprendendo à lidar com as novidades. Ainda estamos caminhando. Vamos melhorar um dia, tenho certeza. Ninguém vive na bagunça porque quer, ninguém empurra um carrinho de pamonha porque quer. Temo que o nosso ilustríssimo escritor deva estar acostumado agora com a boa vida, seus usos agora dizem mais respeito ao refinado e à primeira classe, seu traseiro afofado pelos apoios das melhores poltronas que o dinheiro pode comprar. E a sua mente, velha. Velha como o é o seu objeto de estudo. Porque essa situação de agitação social, de burburinho enlouquecedor, não passa de algo natural. Presente estava nas obras de, oras, Machado de Assis, naqueles contos em que ele detalha o vai-e-vêm dos centros urbanos antigos do RJ, assim como estava presente em tantas outras obras que lidam com a modernidade. Lá estava o protagonista de Crime e Castigo passando mal no meio da agitação enlouquecedora de uma Moscou antiga, nas obras de Dostoiévski, ou aquele inferno industrial que podemos assistir em obras como As Grandes Esperanças, de Charles Dickens. Obras clássicas que um membro cultuado da nossa literatura moderna, oras vejam, falhou em conhecer.

Faça-nos um favor, sr. Márcio Souza, e junte as suas coisinhas e retire-se da nossa região, já que ela tanto desagrada o senhor; aproveite, e PÁRE de escrever também, já que o senhor parece demonstrar tão pouco conhecimento factual sobre ela, à final de contas.

Obrigado, tenha um bom dia, não encha o saco.

PS2: Desculpem se eu estou mais explosivo e delituoso que o normal, meus leitores, mas é que eu tenho especial carinho e afeto pela literatura, e pela pessoa dos autores também, e para mim é difícil separar um do outro.