quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Meninas de hoje

Ei, este texto não é sobre o que você está pensando que é, seu sacana.

Outro dia, eu estava fazendo meu jogging usual nas esteiras do Cagin, assistindo ao filme do Austin Powers no Boomerang, quando entram os comerciais. E devo dizer, eles davam muito destaque à dois certos programas: um trata sobre uma jovem que está a ser paquerada por um zumbi que faz parte de uma banda (?), outro sobre uma menina que tem uma banda e leva uma vida menina normal/roqueira famosa (ao estilo Hanna Montana).

Beleza, beleza. Então, alguém pode me explicar qual é a dessa geração? Digo, Crepúsculo e Hanna Montana, Vampire Diaries e sei lá mais o quê. Na minha época, os desenhos eram A Vaca e o Frango, Laboratório de Dexter e Meninas Superpoderosas; todos desenhos ganhadores de Emmys, ok?. Agora, é novela mexicana, soap opera americana e romance de revistaria. Todos porqueiras inveteradas, ok?

As meninas andam descontentes consigo mesmas? Elas não aceitam mais a sua normalidade? Isso não é novidade. Digo, agora a fuga da realidade é o novo infantil. Querem uma fórmula de sucesso? Menina palerma recebe de presente e embrulhado o extraordinário. Opa, descrevi todas as séries de sucesso da atualidade, ou é impressão a minha? O extraordinário vêm na forma de um homem ideal (um vampiro belo e perfeito, que nem sequer tem mais que se esconder do sol ou beber sangue humano, pois não queremos ter de nos preocupar com qualquer empecilho de fato para o romance dos protagonistas.) ou na forma de uma carreira surreal (simples estudante de dia, rockstar de noite; tarefa de casa pra quê?). Note-se que em nenhum dos casos o resto das amizades da menina sabe do que de fato se passa na vida da moça; não sabem que o homem que vêm chupando seus lábios se amarra mesmo é em chupar seu sangue, ou que o motivo de ela voltar tarde da noite de peruca e cheia de purpurina não é prostituição, mas sim uma inocente carreira de super astro, o que nos remete àquela velha máxima: mulheres adoram seus segredinhos.

Sério, qual é? O entra dia sai dia é marasmo demais? Falta emoção? Vocês tem sido cortejadas pelos homens errados? Tenho que admitir, Príncipe Encantado hoje em dia tá difícil (mas oh, aproveitem enquanto eu ainda estou solteiro). Eu sou até melhor, porque não me alimento de sangue fresco, mas me satisfaço com belos sorrisos e tenros olhares. E essa do super stardoom, é por causa do desejo subconsciente que vocês têm de simplesmente serem populares ao ponto de ter que dizer “chega”? De precisarem se esconder? Acho que vou usar a cantada do "Oi, sou um caça talentos, e você é tem as mais belas costelas salientes de todo o aposento".

Essas séries atacam as inseguranças femininas de maneira grotesca, quase violenta. Chega a ser intrusivo. Mas elas gostam. Elas gostam de ter as coisas entregues a elas. Acostumam-se a serem carregadas pelos fortes braços de um vampiro que nunca vai aparecer,ou à poderem gastar de um dinheiro sem ter de se preocupar com o seu final.

Romances vazios e vidas fúteis, essas são as cartas da vez. Já perceberam que ninguém estuda de verdade nessas séries? Tá, ninguém estudava nos desenhos de quando eu era criança. Mas pô, ninguém mais lê também. Eu já assisti à um episódio de Jonas Brothers com minha irmãzinha, e o tópico frasal do episódio era: a roupa que os irmãos usariam em tal ocasião sujou-se com refrigerante, e não estaria disposta no tal evento. SÉRIO? É ISSO? É SOBRE ISSO O EPISÓDIO? MAN, ARRANJA UM PAR DE BOLAS,TÁ? Digo, é isso que a TV diz para os moleques? Que os grandes desafios da vida lá fora se encontram na dificuldade de arranjar roupas em cima da hora? Amigo,cê tá vendo aquele penhasco ali? Pula. Te joga. Cai. Morre. Purpurinize-se. Esvoace com o vento.

Outro dia teve um evento na Fire, club badaladíssimo, onde um certo “Colírio” deu as caras para agradar a meninada. Foi um evento tipo Xuxa só para baixinhos mesmo. E eu fui checar as fotos do evento, e PORRA. Digo, PORRA. Cara, aquela criatura era feia. Tipo, FEIA. Dava medo, sério. Ele era cabeçudo, e usava uma simples blusa de gola em V apertadíssima, delineando o corpo esquelético (ok, sem braços fortes ali, isso é certo). E a face do ser! Meu deus, ele tinha exatamente o mesmo sorriso em TODAS as fotos. TODAS. Dava para fazer um slideshow, e se você mudasse bem rápido não ia notar a diferença no rosto do meliante. Aliás, se alguém grudasse a foto dele no meu quarto, só daquela cara, eu não conseguiria dormir à noite, admito. O mais interessante, no entanto, era ver o tipo de menina que compareceu ao evento. Por trás de cada sorriso, de cada olhar, uma Isabella Swam.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um navio de lego

Eu montei um barco pirata de lego.

Peça por peça. Encaixe por encaixe. Desde as primeiras chapas do casco, até a ponta dos mastros.

Eu sorri para o barco, ao click do último encaixe. Ele estava perfeito, terminado. Pronto para mil aventuras. Cinco bonequinhos são sua tripulação, e há um capitão e uma donzela.

A donzela pode ser enamorada do capitão, e eles podem ser um casal fugido da Inglaterra. A tripulação pode ser uma corja de ladrões, mas daquele tipo de ladrões dos filmes românticos, que são sempre nobres e carismáticos. Eles podem todos ter sido compelidos a escapar do opressor exército inglês por desentendimentos políticos, lutando contra uma Coroa infiel e ambiciosa, e se juntado na missão de espalhar a instabilidade e a insurgência entre as diferentes classes sociais. A caveira na bandeira pode ser o símbolo de uma rebelião histórica. E o capitão e a donzela são charmosos e apaixonados, e no fundo é a sua figura parental que une o grupo instável que é a tripulação do navio, como uma família incomum.

Ou a tripulação pode ser de uma desgarrada estirpe, perseguidos pela boa Justiça e temidos pelos trabalhadores honestos. Isso porque certos homens idolatram a própria imagem e simplesmente não se ajustam à sociedade alguma. Profissão e honra são meios de domar as pessoas, e esses mesmos homens deles fogem como diabos fogem da cruz. A marginalidade é a salvação, e a lâmina fria na garganta do próximo é todo o escapismo que esses insanos necessitam para acalmar o próprio peito. Vontade de sangue, vontade de violência. E a donzela é uma prostituta e o capitão é um refém psicológico, um boneco das vontades da sua incontrolável tripulação. Ou quem sabe, ele é o mais insano de todos, o mais violento e o mais temível. O meu navio pode ser o navio da morte, e a caveira em sua flâmula nada mais é que prenúncio de perdição. Três tiros de canhão na noite, e vários homens bons jamais encontrarão o caminho de casa.

Ou quem sabe, política e sociedade nada tem a ver com a história desse navio; quem sabe a tripulação é de sonhadores e aventureiros. Quem sabe do diário de bordo deles nada conste se não relatos de encontros míticos encantados. Fugas apertadas de ciclopes e encontros avassaladores com sereias. O capitão é um homem sábio e a donzela, sua esposa, mulher cheia de segredos; pode ser então que o protagonista da história seja um dos simples tripulantes, um jovem esperto e sedento por explorar os cantos de um mundo que está só começando. Nada de baleia branca assassina ou de icebergs escondidos; não, só o dia após dia de um grupo de pessoas que tem toda uma vida pela frente.

Eu paro de sorrir. É só um barco de brinquedo que nunca vai deixar a minha sala de estar.

Porque nenhuma conquista mais tem sabor.

Porque tudo se tornou muito complexo.

Porque na mente do homem de hoje, não há mais espaço para Navios Piratas.

Um navio de lego

Eu montei um barco pirata de lego.

Peça por peça. Encaixe por encaixe. Desde as primeiras chapas do casco, até a ponta dos mastros.

Eu sorri para o barco, ao click do último encaixe. Ele estava perfeito, terminado. Pronto para mil aventuras. Cinco bonequinhos são sua tripulação, e há um capitão e uma donzela.

A donzela pode ser enamorada do capitão, e eles podem ser um casal fugido da Inglaterra. A tripulação pode ser uma corja de ladrões, mas daquele tipo de ladrões dos filmes românticos, que são sempre nobres e carismáticos. Eles podem todos ter sido compelidos a escapar do opressor exército inglês por desentendimentos políticos, lutando contra uma Coroa infiel e ambiciosa, e se juntado na missão de espalhar a instabilidade e a insurgência entre as diferentes classes sociais. A caveira na bandeira pode ser o símbolo de uma rebelião histórica. E o capitão e a donzela são charmosos e apaixonados, e no fundo é a sua figura parental que une o grupo instável que é a tripulação do navio, como uma família incomum.

Ou a tripulação pode ser de uma desgarrada estirpe, perseguidos pela boa Justiça e temidos pelos trabalhadores honestos. Isso porque certos homens idolatram a própria imagem e simplesmente não se ajustam à sociedade alguma. Profissão e honra são meios de domar as pessoas, e esses mesmos homens deles fogem como diabos fogem da cruz. A marginalidade é a salvação, e a lâmina fria na garganta do próximo é todo o escapismo que esses insanos necessitam para acalmar o próprio peito. Vontade de sangue, vontade de violência. E a donzela é uma prostituta e o capitão é um refém psicológico, um boneco das vontades da sua incontrolável tripulação. Ou quem sabe, ele é o mais insano de todos, o mais violento e o mais temível. O meu navio pode ser o navio da morte, e a caveira em sua flâmula nada mais é que prenúncio de perdição. Três tiros de canhão na noite, e vários homens bons jamais encontrarão o caminho de casa.

Ou quem sabe, política e sociedade nada tem a ver com a história desse navio; quem sabe a tripulação é de sonhadores e aventureiros. Quem sabe do diário de bordo deles nada conste se não relatos de encontros míticos encantados. Fugas apertadas de ciclopes e encontros avassaladores com sereias. O capitão é um homem sábio e a donzela, sua esposa, mulher cheia de segredos; pode ser então que o protagonista da história seja um dos simples tripulantes, um jovem esperto e sedento por explorar os cantos de um mundo que está só começando. Nada de baleia branca assassina ou de icebergs escondidos; não, só o dia após dia de um grupo de pessoas que tem toda uma vida pela frente.

Eu paro de sorrir. É só um barco de brinquedo que nunca vai deixar a minha sala de estar.

Porque nenhuma conquista mais tem sabor.

Porque tudo se tornou muito complexo.

Porque na mente do homem de hoje, não há mais espaço para Navios Piratas.