sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O ovo da Vanessa


   A história das eleições no Brasil vêm rastejando penosamente desde 1532, quando os primeiro colonizadores se organizaram em São Vicente para eleger os membros de sua câmara municipal, passando por conturbados períodos históricos e pelos mais diferentes sistemas políticos, cruzando 1821, quando o voto rompeu a barreira regional e começou a ser exercido para eleições de âmbito nacional, atravessando o batalhado período da comoção pelas Diretas Já de 1984, e todos os vetores de desenvolvimento terminam na mais recente ovada na cara da concorrente a prefeita, Vanessa Grazziotin, na noite de terça-feira, dia 11/09/2012. Isso no mínimo me faz matutar acerca da supervalorizada noção de que o ser humano é um animal em eterna evolução.
   A candidata pouco se permitiu refletir antes de acusar logo o partido tucano de Arthur Neto, coincidentemente o seu maior rival nas próximas eleições, de ser o responsável pelo seu batismo gosmento.
Não que ela não mereça, ou não que ela mereça, tanto faz. Mas a verdade intransmutável do fato é que um bom ovo foi desperdiçado naquela noite, o que me traz à mente todas as vezes em que simplesmente não havia nada para eu comer de madrugada lá em casa.
     Para a minha surpresa, entretanto, não tardou a se esgueirar por entre os ouvidos dos cidadãos desta bela capital a tese de que tudo havia se tratado de uma grande farsa armada pelo próprio partido da candidata, com o escopo de atrelar o estigma de anti-feminista ao partido de seu adversário. Logicamente, quem cunhou a referida tese foi o próprio Arthur Neto, com base em imagens e vídeos da internet. Pináculo da sua teoria é o fato de que, após profundo esquadrinhamento das fotos da melecada na face da candidata rival, não se pôde localizar o menor vestígio de casca de ovo. Não que eu esteja cético à técnica jurídica empregada, ou que eu considere o evento todo uma grande e desnecessária bobajada ( o que eu acho), mas daí levar a sua tese para apreciação no Superior Tribunal Eleitoral, como se lá já não houvesse bastante trabalho sério para ser deslindado, já é desvirtuamento democrático E jurídico.
     Se a candidata vier a ser eleita, Deus nos livre, eu lanço mão do seguinte palpite: aposto que ninguém vai nem se lembrar de proposta alguma que ela tenha feito. Ninguém, nada. Ela seria eleita como a candidata do ovo. No grande mosaico de eleições nacionais, nós, Manaus, teríamos eleito a prefeita que levou ovada na cara. Essa será sua única definição. Isso serve apenas para denunciar o quão efêmeras estão as propostas políticas nesta eleição. Digo isso também porque, se a Vanessa pode dizer que é a candidata do ovo, Arthur Neto não tem sequer banca eleitoral atualizada para ser lembrado. Para mim ele é apenas, ainda, o candidato a prefeito que já foi senador; pronto, essa é a sua característica marcante, esse é o jogo que ele está trazendo para a política regional. Ele já foi senador.
     Então, ex-senador versus ovo na cara. Vocês que são brancos que decidam quem leva essa. 
     Pronto, não vou comentar a história política de nenhum dos candidatos, não vou mencionar as serpentes que se escondem em cada coligação, a traição que aguarda em cada partido. Vim aqui apenas e somente apenas para falar da parada do ovo. Até porque, se a Vanessa está reclamando que lhe melaram a cara com um ovo ou uma cusparada ou coisa que o valha, eu gostaria de fazê-la sentir o que sinto quando penso na cara-de-pau que é a sua candidatura. Ovada é refresco perto de político imundo.