“As pessoas não querem sair do cinema pensando”, disse um agente da companhia
Paris Filmes, responsável por algumas das comédias nacionais de maior sucesso.
Eu estava lendo uma reportagem
sobre a comédia brasileira moderna (onde encontrei a citação acima) e reuni
alguns fatos interessantes: o cinema nacional é basicamente sustentado pelo
gênero da comédia. Antes vista como “porcaria
disfarçada pelo desfile de mulheres peladas”, esse nicho foi ressuscitado e
recauchutado num processo que teve início com o filme “Se eu fosse você”, de
2006. Desde então, a bilheteria tupiniquim vem se regozijando com as
impressionantes cifras abocanhadas pelas comédias de maior sucesso – valores de
monta tal que pagam custos de produção totais de menos 6 milhões de reais com
lucros de mais de 30 milhões. Interessante é que, na pesquisa feita pela
reportagem, esclarece-se que de cada 20 salas de cinema responsáveis pelo
sucesso comercial, no mínimo 13 estão em locais de periferia/ baixa renda. Isto
ilustra o público alvo: gente com instrução desinstruída.
Pera, não fui eu que disse isso.
Os próprios roteiristas e produtores dos filmes foram quem expuseram esse fato.
“Não fazemos comédia para alemães ou suíços (gente instruída = não brasileiros). Se tiver muita sutileza ou uma tirada sobre Nietzsche, o público não
vai entender (porque são imbecis e
incapazes de conhecer noções filosóficas com mais de 100 anos de idade)”,
disse um dos produtores de “Até que a sorte nos separe 2”.
Aliás, viram o que eu fiz ali em
cima? Botei entre parênteses a interpretação apropriada para a citação, em caso
de você ser brasileiro (babaca). Então, espero que vocês
entendam onde isso tudo me toca: o cinema brasileiro é, em sua maior parte, uma
bela bosta. Sério. Meu deus, como eu odeio a comédia brasileira. Eu tenho
acompanhado alguns filmes recentemente, como “O concurso”, “De pernas pro ar 1”,
“Meu passado me condena”, “Até que a sorte nos separe 2”, e preciso congratular
os responsáveis por esses títulos, pois eles conseguiram algo no mínimo
impressionante: transformar cinematografia podre, atuação moribunda e roteiros
comatosos em minas de ouro. Aliás, acho que, somando as experiências de
assistir a todos esses filmes, eu devo ter perdido uns 52 pontos de QI no total.
Acho que vou baixar e assistir ao “Se eu fosse você” e finalmente perder a
capacidade de entender o funcionamento de maçanetas.
O mais recente destes a que
assisti foi “Até que a sorte nos separe 2”, e preciso dizer que o Anderson
Silva, o lutador de MMA que faz uma pontinha no filme, tem o talento de uma
lamparina para a atuação. Mas eu relevei; afinal, ele é um excelente lutador. O
que eu não relevei foi o desempenho do protagonista, Leandro Hassum, que atua
tão bem quando o Anderson (ou uma lamparina). Aliás, gostaria de expressamente
avisar aos meus amigos que por ventura tenham tendências suicidas para que
fiquem longe do filme, já que eu mesmo, saudável e contente com a minha vida
como sou, tive vontades acachapantes de enfiar o nariz no copo de refrigerante
e me afogar na Coca-Cola em busca de um fim mais aceitável.
Como bem sabem as pessoas que
escrevem esses filmes, o público brasileiro é idiota e vai pagar para assistir
babaquice. Como bem sabem as pessoas com desígnios políticos, a sociedade
brasileira é idiota e vai votar para eleger mentiras mal contadas e partidos
incompetentes. Ao menos há harmonia no cenário nacional, não é mesmo? Enfim.
Eu não sei se há esperança para o
Brasil, gente. Eu realmente não sei. Eu me pego pensando com frequência: “Que
país é esse?”. Brasileiro não lê, acho que é esse o problema fundamental.
Brasileiro só lê livro de receita da Ana Maria Braga e livro de autoajuda
financeira (aliás, o “Até que a sorte nos separe” é baseado num livro desse
tipo). Vocês já notaram que até os nossos jornais estão em franco processo de “abestalhamento”?
Aqueles “25 Centavos” da vida, sei lá o nome real, que colocam na primeira
página mulheres seminuas (“porcarias
disfarçadas por mulheres peladas”), com matérias redigidas em tom coloquial
(porque o povo não entende escrita minimamente formal) e manchetes ofensivas são
um exemplo. É a cultura do Bolsa-família, da política alienante que busca a alienação
política. A política brasileira obriga o brasileiro a votar e em contrapartida
emburrece o brasileiro para que ele não entenda seu meio social e vote errado.
E o Leandro Hassum fica rico no entremeio.
A grande maior parte dos 155
milhões de brasileiros é alienada, desinformada, sub-educada e resignada. Até
os nossos embates políticos tem alma efêmera (20 centavos) e amplitude mínima.
Acho que quanto mais eu caminho
em direção a uma maturidade intelectual, mais estou fadado a detestar o meio sociocultural
onde me encontro. Acho que o “jeitinho brasileiro”, tão ovacionado e conhecido,
é de fato o responsável pela ignorância massificada. Acho, acima de tudo, que o
jeitinho existe porque o brasileiro simplesmente não tem jeito real. E acho
que, como cinéfilo de coração, estou fadado a viver numa nação de mediocridade à lá Leandro Hassum: volumosa e sem propósito.