sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Concursos Públicos nas nossas vidas

Domingo agora, dia 25 de Agosto, é a prova do concurso público do Ministério Público do Amazonas, e eu gostaria de mandar um alô para os guerreiros que vão fazê-la. Parece que foi ontem que eu estava numa luta idêntica para me preparar para o concurso do Tribunal de Justiça, então eu me vejo obrigado a escrever algumas palavras para os desafiantes dessa próxima grande peleja.
Pra quem não sabe, concurso público é um dos eventos mais disputados do país em questão de mercado de trabalho. É quando os interessados em ingressar na carreira de servidor público veem a oportunidade de finalmente ascender àquele tão sonhado emprego de boa carga horária e boa remuneração, além de prestigioso e estável. E é quando esses mesmos interessados se veem esmagados por editais com conteúdos programáticos simplesmente quilométricos, esperando para matar ou morrer, numa corrida que mais parece impossível do que plausível. E como se as provas já não exigissem bastante do candidato, ainda tem a concorrência: vêm gente do país todo pra sua região, atraídos pelo odor da oportunidade. Gente que você não conhece, gente que pode ter se preparado melhor que você, gente que está apostando mais alto que você... Inimigos mais do que letais.
Eu sei como é essa tensão pré-concurso. Eu agora estou falando com a galera que, como eu no concurso anterior, não tem vergonha de admitir que se preparou, que está com as fichas na mesa e apostando alto.
Foram meses e meses estudando, né? Tanta coisa que vocês deixaram de fazer. Tanta vida social e tanta juventude deixada de lado, sonhando com o momento em que vocês finalmente vão poder voltar para casa e dizer para os pais de vocês “Ei gente, eu conquistei um pedacinho do mundo, sabiam? Eu existo. Eu faço acontecer!”. Mas lembrem-se que é um olho no prêmio e um olho no treinamento, o tempo todo.
Primeiramente, não se permitam sentir na mente de vocês que vocês já pertencem ao lugar onde querem entrar. Nada de se materializar aprovados, jamais. Enquanto vocês se virem como o estrangeiro faminto olhando pela janela, vocês vão poder focar em se preparar para derrubar a porta que os separa do calor e do aconchego que há lá dentro. Não se permitam sonhar muito e morrer de hipotermia lá fora, sozinhos e no escuro da noite.
Segundo, garra. Gente, sério, vocês já se imaginaram lutadores? Lutadores como aqueles que a gente vê na TV, no MMA e no Boxe? Não? Porque se não, tá na hora. Aqueles caras acordam e tem o cronograma do dia todo programado. 8 AM, Jiu Jitsu, 11 AM, Muay Thay, 13 PM, almoço... E vocês? 8 AM, Constitucional, 11 AM, Administrativo, 15 PM, resolução de questões... Vocês acham que eu estou brincando? Que eu estou me deixando carregar pelas minhas palavras? Não, eu estou falando de uma situação real, de um cotidiano tão real que cria marcas. Quem aqui nunca sacrificou o bem estar físico na busca por esses sonhos de aprovação? Quem aqui não teve que se virar um cronograma desses? Quem nunca ficou realmente doente nessa corrida? Eu sei que eu tive de tudo: enxaquecas, dores nas costas, pelo corpo todo, enjoos e até um princípio de gastrite. E é aí que entra a Garra: é a vontade de conquista, de disciplina e determinação mesmo em face da decepção. Meu deus, e as questões que você faz e erra? O tempo todo! As provas anteriores que você refaz e refaz e ainda assim não consegue acertar uma quantidade satisfatória de questões!
Já passei por isso. Já me frustrei muito, já me deixei desesperar. Já atirei todo o material de estudo no chão tantas vezes, já até quebrei canetas com as mãos em momentos de raiva (2 vezes). Uma vez fiquei tão estressado com o meu desempenho que fui dormir 7 horas da noite, porque não conseguia mais me concentrar. Mas aí, você, colega que se dedica também, sabe o que acontece. Nós, eu e você, acordamos no dia seguinte, limpamos a mente e voltamos pro treino. Mais uma sessão de sparing, vamos lá. Refazer aquela prova (de novo e de novo). Tudo de novo, do início. Garra! Cada gota de suor agora é uma lágrima a menos no futuro.
Terceiro, e talvez mais importante: aceite que você pode não ser aprovado, perder tudo. Perder é sempre uma opção, como já diz um certo lutador norte-americano. Derrota é, na verdade, a mais imediata e valorosa, em termos de custo-benefício, opção que há. Você pode não aceitar o risco. Você dizer “Ah, deixa pra lá”. Convencer-se de que aquilo não é pra você. Você pode aceitar o seu lugar como aquela pessoa que anda por aí, feliz em poder dizer “Não passei, mas também nem estudei”. Como se isso valesse os dois centavos furados do seu bolso. Como se houvesse alguma hipótese em que “não estudar” te ganhou alguma coisa. Como se você estivesse mais próximo dos seus sonhos agora. Novidades: você não passou. Isso é chato. Mas você não se dedicou? ISSO é idiota. Isso é falta de previdência. É impossível achar alguém que tenha se danado mais por isso do que... você. Se você não vai passar, que seja estudando. Sério, estude mesmo. Entre na linha de frente: só ganha alto quem aposta alto. Não passou? Tem um próximo. E adivinha: você já tá na vantagem se você se dedicou antes.
E mais uma vez eu friso: nada de se colocar num lugar em que você não está. Nada de dizer que já passou sem nem ter feito a prova. Nada de fazer planos ou promessas, porque o sofrimento desse tipo de fracasso é muito próximo ao insuportável, e provavelmente vai te desestabilizar e desmotivar pelos concursos seguintes. Pode parecer insano, mas é importante que vocês lembrem que uma coisa que vocês nunca tiveram não deve atrapalhar vocês em conseguir outras, possivelmente até melhores que a que vocês deixaram passar!
A vida é assim, altos e baixos. O que fica é o seu coração e a sua preparação. Estejam sempre prontos! O sucesso não vem aos que dormem. Quando sentarem-se na cadeira de prova no dia do concurso, apreciem por um momento as folhas a sua frente. Sem abri-la! Apenas observe-a. Pense no quanto você batalhou para estar ali. Pense em como você merece gabaritar aquela maldita. De repente, lembre-se: aquela prova, aquela desgraçada ali na sua frente, a uma palma de distância depois de meses evadindo e prometendo desafios, ela é vai ser a melhor coisa que já te aconteceu. Ela é a sua melhor amiga, ela é o seu amor. Sabe por quê? Porque ela é o seu trabalho. Ela é a sua chance de mostrar o que você veio provar. Ela é tudo o que você queria. De repente, ela não é mais assustadora. Ela não é maligna. Ela é só as suas próximas 4 horas. Depois você vai pra casa, comemorar, de preferência.
Eu sei que eu fiz isso.
Então, basicamente é isso. Muita boa sorte aos meus queridos que vão prestar o concurso e que tem no coração a certeza de que fizeram tudo o que puderam para se preparar. Lembrem-se, o prêmio de Nocaute ou Submissão da Noite é pra pouquíssima gente, mas o prêmio de Luta da Noite tá só esperando você, que se dedicou que nem um louco pra conseguir o que quer!
Rumo ao MP, galera!