Domingo agora, dia 25 de Agosto, é a prova do concurso
público do Ministério Público do Amazonas, e eu gostaria de mandar um alô para
os guerreiros que vão fazê-la. Parece que foi ontem que eu estava numa luta idêntica
para me preparar para o concurso do Tribunal de Justiça, então eu me vejo
obrigado a escrever algumas palavras para os desafiantes dessa próxima grande
peleja.
Pra quem não sabe, concurso público é um dos eventos mais
disputados do país em questão de mercado de trabalho. É quando os interessados
em ingressar na carreira de servidor público veem a oportunidade de finalmente ascender
àquele tão sonhado emprego de boa carga horária e boa remuneração, além de
prestigioso e estável. E é quando esses mesmos interessados se veem esmagados
por editais com conteúdos programáticos simplesmente quilométricos, esperando
para matar ou morrer, numa corrida que mais parece impossível do que plausível.
E como se as provas já não exigissem bastante do candidato, ainda tem a concorrência:
vêm gente do país todo pra sua região, atraídos pelo odor da oportunidade.
Gente que você não conhece, gente que pode ter se preparado melhor que você,
gente que está apostando mais alto que você... Inimigos mais do que letais.
Eu sei como é essa tensão pré-concurso. Eu agora estou
falando com a galera que, como eu no concurso anterior, não tem vergonha de
admitir que se preparou, que está com as fichas na mesa e apostando alto.
Foram meses e meses estudando, né? Tanta coisa que vocês
deixaram de fazer. Tanta vida social e tanta juventude deixada de lado,
sonhando com o momento em que vocês finalmente vão poder voltar para casa e
dizer para os pais de vocês “Ei gente, eu conquistei um pedacinho do mundo,
sabiam? Eu existo. Eu faço acontecer!”. Mas lembrem-se que é um olho no prêmio
e um olho no treinamento, o tempo todo.
Primeiramente, não se permitam sentir na mente de vocês que
vocês já pertencem ao lugar onde querem entrar. Nada de se materializar
aprovados, jamais. Enquanto vocês se virem como o estrangeiro faminto olhando
pela janela, vocês vão poder focar em se preparar para derrubar a porta que os
separa do calor e do aconchego que há lá dentro. Não se permitam sonhar muito e
morrer de hipotermia lá fora, sozinhos e no escuro da noite.
Segundo, garra. Gente, sério, vocês já se imaginaram
lutadores? Lutadores como aqueles que a gente vê na TV, no MMA e no Boxe? Não?
Porque se não, tá na hora. Aqueles caras acordam e tem o cronograma do dia todo
programado. 8 AM, Jiu Jitsu, 11 AM, Muay Thay, 13 PM, almoço... E vocês? 8 AM,
Constitucional, 11 AM, Administrativo, 15 PM, resolução de questões... Vocês
acham que eu estou brincando? Que eu estou me deixando carregar pelas minhas
palavras? Não, eu estou falando de uma situação real, de um cotidiano tão real
que cria marcas. Quem aqui nunca sacrificou o bem estar físico na busca por
esses sonhos de aprovação? Quem aqui não teve que se virar um cronograma
desses? Quem nunca ficou realmente doente nessa corrida? Eu sei que eu tive de
tudo: enxaquecas, dores nas costas, pelo corpo todo, enjoos e até um princípio
de gastrite. E é aí que entra a Garra: é a vontade de conquista, de disciplina
e determinação mesmo em face da decepção. Meu deus, e as questões que você faz
e erra? O tempo todo! As provas anteriores que você refaz e refaz e ainda assim
não consegue acertar uma quantidade satisfatória de questões!
Já passei por isso. Já me frustrei muito, já me deixei
desesperar. Já atirei todo o material de estudo no chão tantas vezes, já até
quebrei canetas com as mãos em momentos de raiva (2 vezes). Uma vez fiquei tão
estressado com o meu desempenho que fui dormir 7 horas da noite, porque não conseguia
mais me concentrar. Mas aí, você, colega que se dedica também, sabe o que
acontece. Nós, eu e você, acordamos no dia seguinte, limpamos a mente e
voltamos pro treino. Mais uma sessão de sparing, vamos lá. Refazer aquela prova
(de novo e de novo). Tudo de novo, do início. Garra! Cada gota de suor agora é
uma lágrima a menos no futuro.
Terceiro, e talvez mais importante: aceite que você pode não
ser aprovado, perder tudo. Perder é sempre uma opção, como já diz um certo
lutador norte-americano. Derrota é, na verdade, a mais imediata e valorosa, em
termos de custo-benefício, opção que há. Você pode não aceitar o risco. Você
dizer “Ah, deixa pra lá”. Convencer-se de que aquilo não é pra você. Você pode
aceitar o seu lugar como aquela pessoa que anda por aí, feliz em poder dizer “Não
passei, mas também nem estudei”. Como se isso valesse os dois centavos furados
do seu bolso. Como se houvesse alguma hipótese em que “não estudar” te ganhou
alguma coisa. Como se você estivesse mais próximo dos seus sonhos agora.
Novidades: você não passou. Isso é chato. Mas você não se dedicou? ISSO é
idiota. Isso é falta de previdência. É impossível achar alguém que tenha se danado
mais por isso do que... você. Se você não vai passar, que seja estudando.
Sério, estude mesmo. Entre na linha de frente: só ganha alto quem aposta alto. Não
passou? Tem um próximo. E adivinha: você já tá na vantagem se você se dedicou
antes.
E mais uma vez eu friso: nada de se colocar num lugar em que
você não está. Nada de dizer que já passou sem nem ter feito a prova. Nada de
fazer planos ou promessas, porque o sofrimento desse tipo de fracasso é muito próximo
ao insuportável, e provavelmente vai te desestabilizar e desmotivar pelos
concursos seguintes. Pode parecer insano, mas é importante que vocês lembrem
que uma coisa que vocês nunca tiveram não deve atrapalhar vocês em conseguir
outras, possivelmente até melhores que a que vocês deixaram passar!
A vida é assim, altos e baixos. O que fica é o seu coração e
a sua preparação. Estejam sempre prontos! O sucesso não vem aos que dormem.
Quando sentarem-se na cadeira de prova no dia do concurso, apreciem por um
momento as folhas a sua frente. Sem abri-la! Apenas observe-a. Pense no quanto
você batalhou para estar ali. Pense em como você merece gabaritar aquela
maldita. De repente, lembre-se: aquela prova, aquela desgraçada ali na sua
frente, a uma palma de distância depois de meses evadindo e prometendo
desafios, ela é vai ser a melhor coisa que já te aconteceu. Ela é a sua melhor
amiga, ela é o seu amor. Sabe por quê? Porque ela é o seu trabalho. Ela é a sua
chance de mostrar o que você veio provar.
Ela é tudo o que você queria. De repente, ela não é mais assustadora. Ela não é
maligna. Ela é só as suas próximas 4 horas. Depois você vai pra casa,
comemorar, de preferência.
Eu sei que eu fiz isso.
Então, basicamente é isso. Muita boa sorte aos meus queridos
que vão prestar o concurso e que tem no coração a certeza de que fizeram tudo o
que puderam para se preparar. Lembrem-se, o prêmio de Nocaute ou Submissão da
Noite é pra pouquíssima gente, mas o prêmio de Luta da Noite tá só esperando
você, que se dedicou que nem um louco pra conseguir o que quer!
Rumo ao MP, galera!