domingo, 4 de abril de 2010

O Eu no Campo de Centeio

Um livro encontrou seu caminho às minhas mãos ontem. Um livro que minha mãe me prometera a um tempão, tinha lido boas críticas em algum lugar, e desde então dissera que eu o teria. Nunca seu nome me despertou interesse, nunca pensei nesse livro ou fiz pesquisa qualquer sobre o tal. Tratei de ignorar sua eminência o tanto que pude. Mas sua história atingiu meu peito como um projétil implacável. O livro vai pelo nome de "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger.

J.D. Salinger foi um sujeito que escreveu até certo ponto e tornou-se um recluso. Isso mesmo. Fez sucesso, esta sendo seu Magnun Opus, e decidiu da noite para o dia que não publicaria mais nada. Trancou-se em sua casa e passou a escrever para si, apenas. Morreu, e deixou de pronto que produção alguma sua deveria ser publicada, do seu período pós-reclusão isto é. “Escrever pode ser muito bom, mas ler nunca é”, palavras suas. J. D. Salinger foi um gênio.

O Apanhador no Campo de Centeio abre com o desabafo de um jovem, e ao passo que ele promete nos contar algo que lhe aconteceu recentemente, ele diz que vai nos contar sua vida. Não que a vida dele seja interessante ou diferente, ele desconversa, mas é que esse tipo de coisa você precisa saber né? A prosa sempre desse jeito, como se o autor conversasse com você. Ele usa gírias, jargões e tem uma maneira própria de pensar.

Ele é um jovem problemático, um mentiroso compulsivo e um inseguro. Ele é incapaz de externar suas idéias mais sinceras, recorre sempre à um padrão social pré-definido e se encontra numa escola rica e de altos estandartes. Ele é um infeliz. Seus companheiros principais são o rapaz mais estranho e perturbardo da escola e o mais popular. Logo fica óbvio para o leitor sagaz que ele prefere o rapaz desajustado. Algumas pessoas não nasceram para andar com os mais populares, mas elas demoram para se dar conta disso. E ‘preferir’ aqui significa “Ter menos dificuldade para suportar”. O fato é que ele não se encaixa. Ele já está reprovado de ano, e a escola já o expulsou; ele está só esperando o final do período letivo para voltar para casa, para seus pais furiosos.

Em poucas páginas, Salinger cuida de destruir o rapaz. Uma pequena paixão infantil que ele tinha, ele fica sabendo, vira alvo da vulgaridade sexual do seu amigo popular, dentro de um carro; seu amigo mal sabia o nome da garota. Revoltado com a capacidade dos jovens de serem ridículos e mexerem com coisas que não compreendem, ele entra numa briga com o rapaz, e claro, perde feio. Ele vai procurar abrigo no outro amigo desajustado, mas este também é insensível demais, e ele se vê obrigado a fazer as malas e abandonar o colégio mais cedo.

Logo ele percebe que não tem amigos para quem ligar, e as pessoas que poderiam atendê-lo não o fariam. O maior conforto que ele conseguiu foi uma mulher desconhecida no metrô, que lhe administrou doses mínimas de carinho, e um taxista indiferente, mas que também foi o único que não lhe mostrou agressividade.

Este é um livro direto, um livro flamante, um livro sutil e acima de tudo uma obra-prima. O final eu estou por conhecer, mas eu evito prosseguir na leitura com medo de fatalmente terminá-la, e esse jovem me chamou a atenção. Afinal, quem já não teve a vontade de partir permanentemente no meio da noite gritando
Durmam bem, seus imbecis!

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