sábado, 16 de fevereiro de 2013

Coração de Lutador, parte 2.


Subtítulo:  O Lutador Paciente. 

Claro que existe sorte. Essa nunca foi a discussão. Sorte é jogar algo ao acaso e ver, por um capricho do destino, esse ato desinteressado frutificar o bom resultado. É, em palavras mais adequadas, despejar um soco ou um chute e conseguir um nocaute. É inegável a influência de golpes de sorte em qualquer esporte.
O problema é que aquele não foi um. Não existem golpes de jiu-jitsu bem sucedidos por sorte. Uma finalização de jiu jitsu, o Treinador havia lhes dito, é um micro cosmo. Uma espécie de ecossistema sensível, onde cada etapa de seu complexo é essencial para o bom funcionamento da alavanca final. Mais especificamente, a chave de tornozelo que o Lutador utilizara para ganhar a sua última luta  é uma submissão que necessita a imobilização de todos os músculos contidos na perna do oponente, os bons manuseio e colocação de rigorosamente todos os membros do aplicador, movimentação de quadril e, a cereja do doce, boa administração do peso de ambos os corpos. Com todos esses fatores, pode alguém dizer que foi golpe de sorte? Não, o Treinador lhes dissera, não foi golpe de sorte.
Enrolando a bandagem nos punhos do lutador, o Treinador levantou os olhos para mirar seu pupilo.  O rapaz estava cabisbaixo, seus olhos fora de alcance. Injustiçado. Humilhado.
Cortaram sua entrevista. Quando um lutador vence seu combate, é de regra que ele seja entrevistado ao vivo. Seja para oferecer agradecimentos, seja para desafiar novos oponentes, seja para fazer declarações, eles sempre são entrevistados. É quando o público pode dar uma boa olhada no homem que empunha as luvas, admirar o artista por trás da obra. Assim como ver os machucados que ele sofreu na consecução de sua missão, claro. Mas na hora, na frente de milhões de pessoas, a entrevista de seu pupilo foi cortada; comerciais foram exibidos por cima. Ninguém em casa viu seu rosto, ninguém ouviu o que ele tinha a dizer. Ele foi suprimido.
A mesma coisa na coletiva de imprensa que se seguiu ao evento. O Dono da promoção parecia disposto a evitar assuntos que envolvessem o jovem lutador, quase como se quisesse que ele passasse despercebido. O único momento em que o Dono referiu-se aos eventos que transcorreram na luta do lutador foi quando criticou a atuação médica que permitiu a sua permanência no combate. Alegou que iria responsabilizar o médico pela imperícia, garantiu que tomaria providências legais. Foi quando aproveitou para tomar a iniciativa de desrespeitar diretamente o jovem: disse que tudo não passou de um descuido do oponente derrotado, o então veterano e favorito pelo público. “Relaxou demais”, “erro mundano”, foram as razões para a derrota. E de repente, o foco de toda a construção jornalística a respeito da luta não era mais a vitória do jovem, mas a derrota do veterano. O “erro bobo”. O Dono garantiu que aquele pequeno embaraço não era motivo para atraso da  eventual disputa de cinturão do favorito, não. Mais uma ou duas vitórias e tudo aquilo estaria esquecido. Quanto ao lutador jovem? Simples erro médico. Vencedor casual. Rebento da sorte. “Vocês sabem do que eu estou falando”, foi concluindo o Dono, “qual é, aquele moleque passou mais tempo sendo atendido pelo médico do que fazendo algo realmente impressionante na luta. Sim, isso é um fato. Tanto, na verdade, que deveriam chama-lo de Paciente, sabe? É, o Paciente. Aí está um apelido para aquele cara”. E assim encerrou a coletiva, e assim foi como o jovem lutador ficou conhecido nas raras ocasiões em que era mencionado pela mídia: O Lutador Paciente.
Num esporte de apelidos e personalidades que assustam, o vencedor ficou tido por uma espécie de vítima.
Aquilo doeu. Aquilo afetou profundamente o protegido do Treinador, provocando mudanças por todos notadas na academia que frequentavam. O Lutador Paciente não sorria mais. Antes um viciado nos fóruns de internet sobre vale-tudo, ele não abria mais o computador. Não se aguentava ver suplantado sem nem saber por quê. O Treinador sabia o quanto ele se dedicava, sabia o quanto ele estava disposto a ralar pelo ofício. Problemas de saúde, dores, cansaço, dedicação exclusiva, a vida de quem quer galgar os degraus do sucesso não é fácil. O mínimo que se pode esperar é algum reconhecimento pelos bons resultados colhidos no caminho, mas nem assim foi recompensado o Paciente. O Treinador sabia que a vida dava seus socos, mas ele não era insensível a noção de que com seu pupilo ela parecia estar exagerando. Embora não hesitasse em proferir palavras de afeto e motivação, o Treinador sabia o quão difícil seria para qualquer um aceita-las, frente a provação tal qual a do jovem.
O que ele fez após a luta? Talvez a coisa mais insana de sua vida inteira.
Com o salário gordo que recebera com as premiações da noite, o Lutador Paciente se viu apossado da maior fortuna que já tivera na vida. Ainda que não passassem de 20 mil reais, aquilo foi o suficiente para que ele se convencesse a largar os dois empregos que equilibrava e se entregasse ao treino das artes marciais 11 horas por dia. A maior parte do dinheiro, o lutador paciente usou para matricular seus dois filhos na melhor escola que a cidade conhecia, assim como para comprar-lhes roupas que pudessem utilizar lá dentro ( boas roupas, luxo até antes desconhecido por sua família). Ele quitou todas as suas dívidas, desde seu aluguel até suas mensalidades com o Treinador. Reservou algum dinheiro para que os filhos pudessem sair para jantar ou ir ao cinema de vez em quando, assim como uma quantia para o transporte deles à escola. Para si, não reservou nem isso: ia a pé todos os dias. A única coisa que comprou para si com todo aquele dinheiro? A maioria das pessoas não acreditava quando lhes diziam, mas para si ele adquiriu apenas um novo par de luvas. Um novo par de luvas.

Era a noite de sua segunda luta, e as bandagens que o treinador lhe vestia eram velhas e gastas. 4 meses haviam se passado desde sua luta de estreia e o Lutador Paciente estava com sua conta bancária zerada. O treinador lhe acautelara quanto à rápida utilização do dinheiro; as mensalidades das crianças eram excepcionalmente caras. O Lutador Paciente apenas o olhava com um semblante de quem não compreende.
“Não se preocupe”, tentou conversar o treinador. “Você vai vencer hoje”. O lutador olhou e sorriu.
O Treinador sabia que a situação do Paciente era precária; por algum motivo, a sua segunda luta foi acertada com o Guardião do Portão. Guardiões de Portão ( os Gatekeepers) são os melhores lutadores da categoria que já tentaram e fracassaram em lutas contra campeões, mas que não possuem popularidade o suficiente para tentar outra vez. Acontece que eles adquirem a alcunha por serem anormalmente melhores que os demais lutadores da categoria, mas ainda assim incapazes de vencer o campeão. Por isso, adquirem o status de segundo-melhor e enfrentam os outros pretensos desafiantes em ascensão antes do campeão. Infelizmente, os gatekeepers costumam ser lutadores detestados pelo público, simplesmente porque lutam bem demais e costumam vencer desafiantes mais carismáticos em lutas técnicas e com estratégias repetitivas. Em resultado, suas lutas não são muito interessantes e acaba que os desafiantes derrotados terminam minguando após serem derrotados. No caso do Lutador Paciente, o Treinador imaginava, as coisas seriam ainda piores se ele perdesse.
Tendo em vista a antipatia que o Dono lhe dirigia, era quase certo que com aquela derrota o Lutador Paciente seria chutado para fora da promoção para sempre, e ainda com o ônus de ter participado de uma luta que pouca gente se interessou por assistir. O Treinador não se  surpreenderia se ficasse sabendo que o Dono fizera isso de propósito; que montara aquela luta pensando exclusivamente na obliteração do Lutador Paciente. Este, para evitar maiores desentendimentos, fora indiretamente coagido a aceitar a luta. O pior de tudo? Se perdesse aquela luta, a sua luta anterior finalmente seria concretizada como mera brincadeira do destino, e ele acabaria saindo da maior promoção de MMA do mundo embaraçado e sem nada para mostrar. Foi tudo um plano. Desde a maneira como o Dono se portara na coletiva de imprensa que se seguira à última luta até o arranjo da seguinte, pensava o Treinador.
- Eu preciso dessa vitória, treinador- falou, subitamente, o Lutador Paciente.
- Sim.
As bandagens, agora quase terminadas, apertavam os punhos do lutador. Apesar do isolamento acústico da sala, o som da plateia lá fora ainda conseguia encontrar seu caminho até os ouvidos dos dois. A sala tinha um ar tenso.
- Acho que é verdade o que dizem. Não importa qual seja, só há um desafio maior do que o maior desafio que um homem possa encontrar: o seguinte a esse.- disse o lutador.- Agora eu vejo. E eu estou cansado, treinador. Eu estou cansado.
“Tenho acordado cedo, muito cedo. Eu acordo bem antes de o sol nascer e me dedico até bem depois dele ter-se posto. Às vezes eu fico tão cansado que eu não consigo entender comandos simples, sabe? Às vezes eu fico tão cansado que a minha mente se perde no meio das conversas mais mundanas, eu não sei se o senhor sabe do que estou falando. As dores que sinto já estão tão arraigadas que eu nem as trato mais, aprendi a conviver. Chego a esquecer que elas estão lá, mas decerto não me lembro mais de tempo em que não as possuísse. Meu tronco e braços são ralados dos quimonos e das lutas de chão. Minhas mãos tornaram-se calosas demais para carinhos. Minhas pernas estão sempre com algum roxo, resultado do calejamento que as fazem ficar mais fortes. Dormir e comer não são mais prazeres, são artifícios de que devo me aproveitar para maximizar meu desempenho. O conforto de minha cama eu ignoro, para que levantar cedo não seja tão difícil, e a comida é sempre a mais saudável e sem-graça possível. Quando não estou me dedicando, me esforço para não gastar energia. Converso pouco, não saio muito de casa. Eu não aguento mais, treinador.”
“Mas, ainda assim... Eu sei o que estou fazendo. Pelo menos, é o que me digo quando estou mais desesperado. Dizem que a vida não exige mais do que podemos fornecer, e se esse ditado for verdade tenho certeza que se esqueceram de acrescentar que o que podemos fornecer nem sempre é algo de que efetivamente já dispomos. Por isso é importante que nos esforcemos todos os dias para ir além do que fomos no dia anterior. Para aqueles que perseguem sonhos, ou se vive esforçando-se ou morre-se fracassando.”
“Se eu não vencer essa luta hoje, treinador, eu terei que pegar minhas coisas e voltar para casa, para minha vida antiga. Todo o sangue que eu já derramei terá sido em vão, e eu sei disso desde o final da minha última luta. Sabe, quando eu percebi que o Dono estava contra mim, eu percebi também que não haveria segundas chances. Eu não sei por que ele não gostou de mim, sou só mais um sujeito tentando chegar no topo. Mas quem sabe isso não é um sinal? Esperei minha vida toda pelo sinal que indicaria que talvez eu pudesse fazer alguma diferença no mundo. Acho que todos nós somos assim, não? Só nunca imaginamos que esses sinais geralmente vêm na forma de um soco do destino. E é aí; é aí que nós temos que olhar bem dentro dos nossos corações e nos perguntar: será que posso sobreviver ao próximo round? Se nós aceitarmos a derrota, estamos aceitando que a vida nos coloque onde ela bem entender; perdemos as rédeas de nós mesmos. Mas se, e só se, nos conciliarmos com a ideia de que para sermos o vencedor devemos suportar a dor, então... Então eu acho que nós temos uma chance. Aquele poeta já dizia, não? ‘Tudo vale a pena se a alma não é pequena’. Agora eu entendo. Agora eu entendo treinador, e eu concordo. Há 4 meses eu tenho suportado a dor. Me engalfinhei com ela, apertei tanto quanto fui apertado, esperneei e gritei, já fiz pedidos e promessas de joelhos. Hoje eu acredito que derramar sangue não é o problema; o problema é não derramar o suficiente.”
“O resultado da luta de hoje é muito importante, treinador. E eu não peço pela vitória: eu peço a Deus pelo meu melhor. ”
Nesse momento as portas da sala se abriram.
- Tudo pronto? O Paciente entra em 5.- avisou o homem de uniforme.
O Lutador Paciente o mirou e, calmamente, aquiesceu com a cabeça. “Estou pronto.”

O Guardião do Portão era um lutador assustador. Não era um brutamontes, não. Tinha um físico maior, mais largo e menos musculoso que o outro oponente do Lutador. Aparentava aquele tipo de força difícil de se superar, justamente por ser naturalmente difícil de se igualar. Justamente por isso, a sua tática era tão simples quanto era eficaz e arrasadora: ele derrubava o oponente e o esmagava contra o chão. Com o passar do tempo, cobria-o de golpes e cansava-o inutilmente com a magnitude de seu tamanho. A luta se transformava então em teste de resistência para os lutadores adversários, que logo tinham o espírito quebrado para então sucumbirem sob socos ou cotoveladas violentíssimas. E agora, o Guardião mirava o Lutador Paciente com seu olhar inescrutável, atemorizante, do outro lado do octógono.
Fazendo jus ao seu apelido, o Lutador Paciente exibia uma face que misturava calma, ameaça e determinação. O Treinador se impressionava como de repente o apelido “Lutador Paciente” parecia ter se tornado... apropriado.
A luta teve início, e os lutadores se aproximaram. Tocaram as luvas em sinal de respeito e tomaram suas posições de combate. Após alguns momentos se estudando, o Lutador Paciente tentou quebrar a concentração do oponente com jabs rápidos. O oponente esquivou-se andando para trás. O Lutador Paciente cessou ofensiva, aguardando contra-ataque. O oponente voltou a aproximar-se, um desafio. O Paciente aproveitou para dar um chute na perna do oponente. Desapercebido,  oponente acabou levando o golpe. O Lutador, por reflexo, tentou repetir; caindo na armadilha do adversário. No instante em que sua perna encostou na do Guardião, este rapidamente a agarrou com um braço enquanto o outro cruzou o ar em direção ao rosto do Lutador Paciente. O soco atingiu precisamente o seu queixo e, sem ter como se apoiar, o Paciente caiu de costas no chão.
No solo, o Lutador Paciente necessitou alguns segundos para chacoalhar a tontura; tempo mais do que o suficiente para que o Guardião montasse em cima dele e começasse a desferir socos. O público, tão numeroso quanto na última luta, foi ao delírio. O juiz se aproximou para ver o estado do Lutador Paciente, e ao ver que ele ainda se defendia com diligência, não interrompeu a luta. O Lutador, enquanto isso, sofria com a enxurrada de golpes que o Guardião descia sem pena. O Treinador, lá fora, berrava comandos que não sabia se eram escutados. De repente, o oponente mudou a estratégia e puxou um dos braços do Lutador Paciente, tentando uma chave de braço.  Na mesma hora, este, percebendo a iniciativa, ergue-se na medida em que seu braço era puxado e conseguiu rolar para fora do golpe, separando-se do oponente. Ambos se levantaram, e o Lutador pôde notar o sangue que vazava de ambos seus supercílios. Frustrado, cuidou de abaixar a guarda para se prevenir contra outras investidas baixas. O Guardião, entretanto, deu um pequeno salto agarrou as pernas do Lutador com tanta força que este foi jogado contra a grade e arrastado para o chão. Cercando-o contra a grade, o Guardião conseguiu espaço o suficiente para dar algumas cotoveladas. Mais uma vez o árbitro se aproximou para ver se deveria parar a luta, e mais uma vez decidiu não intervir. Faltavam 30 segundos para o fim do round, que o Lutador passou apenas sobrevivendo às investidas do adversário.
No entre-rounds, enquanto o Stitcher limpava o sangue de seu rosto e passava vaselina em suas feridas, o Lutador recebeu ralha do treinador.
- O que diabos você pensa que está fazendo?!- gritava, preocupado. – Entregando chutes para ele te derrubar, oferecendo a grade, errando os sprawls! Não foi para isso que treinamos! Onde você está com a cabeça, rapaz? Não está vendo que com o seu desempenho nesse round, você vai ter que submeter ou finalizar a luta para ganhar?! Porque com certeza na pontuação dos juízes você está perdido!
O Lutador, embora transparecesse um pouco de nervosismo, tentava exprimir calma. Pediu ao Treinador que se acalmasse, pois estava tudo sob controle. Então, o árbitro veio e mandou todos que não os lutadores se retirarem do octógono. Enquanto saía, o treinador gritou: “Como assim sob controle?! O que você tem em mente?!”. O Lutador olhou-o, sorriu uma ilusão de sorriso e voltou sua atenção ao oponente.
 Com o início do segundo round, o Guardião se aproximou mais tranquilo, procurando luta. Encurtou a distância com uma sequência de jabs, mas o Lutador resguardou-se procurando mais espaço. O Guardião, sorrindo perante o medo que incutira na presa, buscou-o novamente com mais jabs, ao que o Lutador respondeu da mesma forma. Mais decidido, o Guardião tentou um dos mais fortes golpes de punho, o mata-cobra. O Lutador baixou-se e revidou com um curto jab no rosto do oponente. Percebendo a insegurança do oponente, o Guardião tentou uma rápida aproximação para buscar a cintura do outro e consequentemente derrubá-lo. O Lutador, para a surpresa do público, aplicou um chute reto que interrompeu e afastou o oponente. Surpreso por nunca ter sido interceptado daquela forma, o Guardião resolveu lutar seguro novamente. Afastou-se um pouco e sinalizou para que o Lutador viesse pegá-lo. Após curta meditação, o Paciente atendeu seu pedido e se aproximou, lançando um direto de direita quando teve a oportunidade. O Guardião passou por baixo e agarrou a cintura do oponente. Lá fora, o Treinador tapou o rosto com a mão em sinal de decepção. “Estava indo tão bem!”.
Forçando a derrubada, o Guardião pulou abraçado com a cintura do Lutador, e ambos caíram. Para surpreender o público novamente, o Lutador conseguiu inverter a posição antes que o Guardião ficasse tranquilo e conseguiu montar nele. Aproveitou a oportunidade para se levantar e se afastar.
O Guardião, apesar de assustado com a velocidade do oponente em se levantar, ficou contente por ver que ainda era respeitado por sua luta no solo. Levantou-se e decidiu atacar com fúria. Aproximou-se rapidamente e lançou outro mata-cobra. O Lutador, em resposta, saltou alguns centímetros para trás, apenas o suficiente para que o golpe lhe raspasse a ponta do nariz, e contra-atacou com uma joelhada voadora em máxima velocidade. O golpe acertou o queixo do Guardião do Portão, e este simplesmente amoleceu e caiu ao chão.
O silêncio tornou-se opressivo dentro do recinto. O Lutador conseguia ouvir sua própria respiração acelerada. A gigantesca multidão de espectadores ficou muda por alguns instantes, vendo o oponente apagado. O Lutador não se aproximou do adversário para cobri-lo de socos; apenas aguardou. O árbitro, percebendo sua deixa, se aproximou e notou que o Guardião estava positivamente nocauteado. Logo sinalizou pelo fim da luta e levantou o braço do Lutador Paciente. A multidão explodiu a arena em gritos, aplausos e assobios no mesmo instante.
O Treinador, não acreditando, correu para entrar no octógono, abraçando o pupilo. Nunca imaginaria um desfecho como aquele para a luta! Olhando na direção da diretoria do evento, pôde notar que até o Dono batia palmas, impressionado. Conquistado.
- Meu Deus, esse cara é tão assustador! – gritava um dos comentadores para o mundo todo- Ele vai ser o próximo campeão mundial!!
Mais uma vez recebendo os filhos com um abraço, o Lutador preparou-se para sua entrevista. Só que dessa vez, ele sabia que não seria cortada.
E a multidão prosseguiu para sempre, naquele momento, com sua torcida feliz.

Fim da Parte II

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