quinta-feira, 3 de junho de 2010

Príncipe do Nada: Areias de Merda

AVISO: SPOILERS GRAVÍSSIMOS, GROTESCOS E ABSURDOS SOBRE O FILME PRÍNCIPE DA PÉRSIA. NÃO LEIA SE VOCÊ AINDA DESEJA ASSISTÍ-LO NO CINEMA!

Olhem só, calças jeans azul, vermelha e brancas com estrelinhas brancas enfeitando os bolsos foram arreadas, e mais uma película escatológica foi excretada nos nossos cinemas. Explico-me.
Prince of Persia era um jogo e tanto. Correr nas paredes e parkour em geral, mil e uma maneiras diferentes de se matar os inimigos, lugares mitológicos, personagens entrosados e estórias descoladas, o jogo tinha tudo para apaixonar os jogadores de Playstation 2. E agora, depois de anos de promessas e anos em produção, temos o resultado.
É uma tendência a infantilização do nosso cinema, isso é fato. Não temos mais mentes interessadas no chocante e no brilhante, temos vontade de comer pipoca. Razão disso é, oras, quando foi a última vez que você saiu do cinema sem entender plenamente o que assistiu? E ainda assim, sem se dar ao trabalho de tentar entender,e auferir o significado subjacente da obra? Ninguém faz isso, não mais. Até porque não há demanda. Mas oras, isso não é desculpa para esse retardamento com o qual me deparo num filme tipo Príncipe da Persia: Areias do Tempo.
Fui assistí-lo na pré-estréia, claro, como qualquer fã que se preze. O filme é sobre um, duh, Príncipe Persa que encontra uma adaga mágica, que por sua vez se utiliza das tais areias do tempo para proporcionar ao seu portador um breve retrocesso no tempo; artefato muito cobiçado pelo conselheiro do rei. Esta é a história do filme que tem em comum com a do jogo; as alterações do filme são que agora o príncipe tem 3 irmãos, o conselheiro é seu próprio tio, e uma série de personagens secundários infundados são acrescentados. Ah, e no jogo o príncipe não tem nome,já no filme ele foi insipidamente nomeado Dastan, o tipo de nome que me dá vontade de cospir. E o objetivo do vilão no filme é bobo: ele quer reunir a adaga à outra parte do instrumento concedido pelos deuses persas (já que a adaga e essa outra parte formam um instrumento só), uma ampulheta gigantesca cheia dessas areias, o que teoricamente poderia alimentar a adaga tempo o suficiente para que ele voltasse o tempo até onde bem entendesse, evitando assim salvar a vida do irmão num momento específico, e tornando-se rei, cometendo assim um crime sem cometer crime nenhum. O que ele não sabe, é que se ele tentar fazer isso, a ampulheta irá rachar e, opa, Armagedon, Apocalipse, Fim dos Tempos, Sex and the City, você escolhe o nome da tragédia . Logo se torna objetivo do casalzinho levar a tal adaga à um certo lugar que nem eu sei direito o que significa, mas que por algum motivo deixaria a adaga salva para todo o sempre.
A relação que estrutura o filme, do príncipe com a moça com quem ele se aventura, é divertida mas não chega a ser gratificante.O diretor, espertamente, se aproveita do mais óbvio benefício dramático que uma trama assim pode conceder: ele sai matando seus personagens um a um; o que serviu apenas para fortalecer minha convicção de que ele iria inevitavelmente levar o príncipe numa viagem temporal para antes de que qualquer coisa tivesse se tornado interessante, extirpando assim quase que por inteira a graça do que se passava na tela; olá, estou assistindo um filme que nunca aconteceu, me dê um pouco da sua pipoca, valeu. E olhem só, estou com uma coceira atrás da orelha: por quê, DIABOS, os Deuses persas dão uma porcaria de uma chave para o Apocalipse para os humanos idiotas guardarem, e ao mesmo tempo dá o lugar onde a tal chave poderia ser guardada para sempre em segurança, e ninguém nunca ligou os pontos até o momento em que a destruição se torna inevitável? Digo, vamos manter aqui a porcaria do artefato apoteótico sem experimentá-lo ou sequer dar-lhe uma utilização besta tipo evitar que o pão onde acabamos de passar manteiga caia no chão, ao invés de selá-lo em eterna proteção contra a natural vilania humana. O filme é, tudo considerado, uma besteira, uma bobagem. Ninharia. Um mimo tolo de 200 milhões de dólares.
Como todas as adaptações de video games, poderíamos passar sem.
Fica agora uma última comiseração minha: oras, se a adaga não poderia ser utilizada enquanto fincada à tal ampulheta sem proporcionar-lhe uma rachadura e desencadear assim a destruição mundial, como que no final o vilão assim faz ocorrer, e por longo tempo a mantém fixa dentro da ampulheta, até que o príncipe a retire, e ainda assim este consegue voltar longamente no passado, propósito este que estava descartado pelas próprias instruções divinas?
Ah, não enche, Príncipe da Pérsia. Não sei quanto a você, mas a minha vontade após assistir o filme era ter eu mesmo uma adaga mágica daquelas, e voltar no tempo o suficiente para evitar pagar o meu ingresso.

2 comentários:

  1. Primeiro: como assim voltar no tempo pra evitar pagar a entrada? Você não pagou, a Bill pagou. 8D
    Segundo: Você esperava que o filme fosse EXATAMENTE como o jogo? Tem uma diferença entre fazer um jogo e fazer um filme, Haroldo. As mudanças e acrescentações eram necessárias. O Prince precisava de um nome, ele não poderia ser apenas Prince of Persia, todo personagem precisa de um nome que fique na mente, para as pessoas lembrarem dele. Depois, a crianção da família foi necessária para formar parte do caráter do Prince, porque diferente do jogo, no filme ele tinha que mostrar aquele caráter de herói e tinha que ter aquilo que mostrava o lado humano dele. E também, o fato do tio ser o vilão é aquele fator família traándo família que, você por ter estudado história, sabe que acontecia muito naquela época. Briga por poder e pelo trono. O tio precisava sim voltar ao passado e e dai que ele ia gerar o Apocalypse, isso também ficou explicado pra mim. Ele estava embriagado pelo poder e não tinha noção do que poderia acontecer quando o conseguisse. Também, o fato dos deuses terem entregado a Adaga ficou bem explícito, eles queriam que os humanos provassem que são bons, ou provar que são ruins e que iriam causar o Apocalypse destruíndo a si mesmos. Agora só me restar perguntar se você prestou mesmo atenção no filme ou se ficou só fazendo piadinha e não entendeu direito a história.
    E outra, acho que se alguém que ainda não viu o filme ler todo esse spoiler, vai ficar puto. xD

    ResponderExcluir
  2. Se o filme for bom, o personagem não precisa de nome, vimos isso em grandes filmes como A Estrada. Mas mesmo assim, eu só falei isso como fã inveterado do jogo, e para puxar graça um pouco.
    De fato há diferenças entre fazer um jogo e fazer um filme, mas isso não é desculpa para se fazer um filme ruim, como vemos à torto e à direito; e agora.
    Agora,é incorrer no erro dizer que a criação da família foi necessária, pois já vimos, inclusive em filmes do mesmo produtor, Jerry Bruckhemeir, que personagens sem ligação familiar nenhuma e com mínimos detalhes do seu passado podem se tornar verdadeiros ícones, como é o caso do sr. Jack Sparrow,vocês sabem quem é. Devo dizer, que é costume do senhor Bruckhemeier fazer filmes bons de verdade com pouca história,mas aqui ele fracassa pela primeira vez, justamente por causa da influência paupável da Disney. A escolha da família é, muito óbviamente, assim como a escolha de tê-lo feito órfão de bom coração e blábláblá, uma maneira fácil e reprovável que os roteiristas utilizaram para tentar ganhar a platéia sem esforço, incorrendo assim num cliché tão antigo quanto a própria Pérsia.Dizer que isto era maneira de mostrar o caráter do personagem é intragável,pois é natural que em filmes os personagens devam construir seu caráter no decorrer da trama,oras. Já a escolha do tio como traidor, eu acho que não preciso mencionar o quão cliché isto é, também é patética,pois mostra o quão desinteressados os produtores estavam em fazer um filme decente.
    Prince of Persia, em sua essência, é o tipo de história que se constrói no decorrer dos eventos que nós assistimos na tela. Prince of Persia tem a genialidade em cada momento, em cada interação entre os personagens. Isto era tudo o que precisavam os produtores para fazer uma boa película. No filme,entretanto, isso é destruído, já que nós recebemos um filme cheio de material cliché e infantil(Erro do Bruckheimeier e erro da Disney, respectivamente).
    Realmente, eu tentei fazer piada durante o filme, mas isso não me impediu de prestar atenção inabalável no que decorria na tela. Mas o filme é tão sem graça, que eu até me arrependo de ter falado alguma coisa.

    ResponderExcluir