terça-feira, 4 de maio de 2010

There's still a lot of growing up to do

Jovens não morrem. Essa é a minha filosofia favorita. Jovens não morrem. Das luzes que xispam pelo painel do carro tarde da noite, acima de um velocímetro inconformado, passando pelas mãos que manipulam num malabarismo indecente sexo, interesse e relações sociais, essas são as mesmas mãos que agarram as golas de blusas alheias, quiçá faltem sorrisos e beijos à esses lábios irados, lábios que não se poupam de sorver todo tipo veneno.

Eu me sinto velho. O meu corpo pesado repousa eternamente num trono de pedra, e eu sou uma estátua viva, eu sou o Homem de Ferro que veio do futuro profetizar a morte dos meus iguais, e eu estou na pista certa de matá-los todos. Eu os assisto todos, apoiando a cabeça com um punho fechado.

Jovens são o futuro, dizem os velhos, mas como pode um novo entender o que eles querem dizer com isso? Se um jovem não morre, ele mais do que ninguém é incapaz de dizer o antes do depois. O homem atravessa a ponte porque, mesmo que atrás não haja necessariamente a morbidez, ele é cego pela promessa de sua ausência à frente. É um problema dos eternos a desconformidade, e você pode sentir a mutação sempre que conversa com um jovem; não é sangue que extravasam suas veias, é um líquido roxo viscoso, que apodrece. São todos meio-humanos-meio-diferentes. Todos têm ideologias diferentes, todos acham que têm o futuro pautado. Acham que sabem como se portar, vejam seu jeito de andar, notem seu jeito de falar, eles riem entre si, parece até que são plenamente capazes de raciocinar. O que tem em comum é simples: sempre incorrem em erro.

Olhe nas minhas costas, enquanto eu me inclino. Eu estou sem blusa nesse trono gelado. Perceba o grande A que eu tenho talhado, entenda o que ele quer dizer. Atente que ele está circulado, adivinhe agora o que eu venho a ser. Enquanto isso, eu já comecei a minha translação.

É tão engraçado. Depois dos 18 anos a idade entra numa zona sombria, e só retomamos a conta depois da primeira grande tragédia. Nós achamos que somos um momento só, mas exige-se muita atenção perceber que à cada dia que o calendário destaca ficamos mais odiosos. Você não se cansa dos seus preconceitos? Tão jovem e já tão carregado, que bagagem é essa? É ela que está muito pesada, ou é você que não sabe como lidar com ela? Sem rugas no rosto e já tanta coisa com que se preocupar. Você não é tão imortal assim agora. Ter medo do certo e do errado é sinal de que ainda há um monte de crescimento por fazer.Discernimento é para os mortos. Achar que todo dia é o fim do mundo é clichê, mas é o que acaba acontecendo. Jovens não percebem que lhes falta uma coisa essencial: o contar dos dias. Cada dia é uma mão de cimento na sua muralha moral. A perspectiva da eternidade pode ser enlouquecedora, eu vos digo, e a imortalidade é a maior causa de morte e de desgraça de que se tem notícia. Ela avassala a muralha dos incautos.

Vejam, eu me levanto. Eu trago a tal tragédia que vai acabar com a sua imortalidade. Eu sou o início do seu fim. Eu vou terminar suas expectativas, eu vou mudar sua perspectiva, eu vou desacreditá-lo de suas assertivas. Observem,apenas observem.

Observem, enquanto eu extendo meu dedo à luz do relógio na parede.

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