O Batman é real.
Eu sempre tive minhas suspeitas,
sabe? Mas agora eu tenho certeza. E ao final deste artigo, você vai ter também.
Miles Scott, natural de Tulelake,
na California, é uma criança de 5 anos com leucemia. O diagnóstico aconteceu quando
o pequeno tinha apenas 1 ano e 6 meses de vida, e desde então ele vêm
batalhando a doença; pode-se dizer que ele passou, de fato, a maior parte de
sua vida em hospitais e em consultórios, tomando remédios e fazendo
quimioterapia, não podendo brincar e não podendo aproveitar sua saúde.
Recentemente, entretanto, a doença entrou em remissão, que é um estado em que
ela fica assintomática. Sendo este o escopo de todo o tratamento, considera-se
que o pequeno Miles “venceu” sua batalha.
Tomando conhecimento da sofrida
história de vida de Miles, a fundação Make-a-Wish foi até ele e perguntou-lhe
qual era o seu maior desejo. A coisa com que ele mais sonhava, seu desejo abstrato
mais louco. Ele disse apenas que, oras, queria ser o Batman. É bem o tipo de
coisa que uma criança de 5 anos diria, não?
Ué, sem problemas, disse a
Make-a-Wish. A fundação rapidamente iniciou um projeto ambicioso, contatando as
autoridades da cidade de San Francisco, que é a principal cidade do norte da
Califórnia, e espalhando seus planos na internet. Os planos eram “simples”: por
um dia, San Francisco seria Gotham City, o pequeno Miles seria o Batman, e ele
combateria o crime a pedido do comissário de polícia da cidade. Logo a ideia da
fundação se espalhou e os internautas começaram a demonstrar seu suporte: Miles
virou sensação nas redes sociais e o plano de transformar San Francisco em
Gotham conseguiu 12 mil voluntários.
Tudo veio à fruição ontem (15/11),
quando Miles foi conduzido a San Francisco sob o pretexto de ir receber uma
bela fantasia do Cavaleiro das Trevas. Chegando à cidade, foi surpreendido com
a bela verdade dos planos. Lá, além de receber a prometida fantasia, participou
de um circuito bem elaborado que envolvia passear pela cidade num Lamborghini
pintado de Batmóvel, conduzido por um dublê do próprio Batman, enquanto vivia
simulações que envolveram capturar o supervilão “Charada” no meio de um assalto
a banco, assim como salvar o mascote da cidade das mãos do “Penguim”, no meio
do estádio municipal. Ao final de suas missões, o jovem foi recebido pelo
prefeito numa cerimônia pública, onde recebeu a Chave da Cidade. O tempo todo o
“Batkid” (como foi oficialmente apelidado) foi seguido por milhares de
espectadores, que gritavam pelo seu nome e torciam por ele.
Poxa, eu já ia ficar feliz só de passear num Lamburghini... |
Miles e a chave da cidade |
Esse conto verídico trata, como
se constata, da beleza do altruísmo humano. O jovem Miles, ainda em tenra
idade, tem como herói e inspiração uma figura oriunda das histórias em
quadrinho. O que ele não sabe é o valor de sua vitória: a conquista de uma das
doenças mais cruéis pelo ser humano em seu estado mais frágil e inocente; esse
tipo de história ressoa no coração de qualquer um, simplesmente porque sabemos
que a infância é um momento ímpar no desenvolvimento do homem, tanto pela sua
fragilidade quanto pela sua fugacidade e sua magia.
Miles arrastou-se pelas veredas
de sua guerra contra a leucemia movido, dentre outras coisas, em grande parte
pela admiração por seu super-herói favorito. Batman, em muitos aspectos, salvou
sua vida. Digo isto sem querer, logicamente, atentar contra a importância factual
do apoio familiar e médico da criança, mas com o objetivo de ressaltar o lado
mais introspectivo do assunto. O Cavaleiro das Trevas ajudou Miles a esquecer
da anemia, dos inchaços, das hemorragias, da fatiga, das náuseas, das dores, das
constipações, das mudanças nervosas, das mudanças na memória, e dos muitos outros
sintomas da Quimioterapia, e fê-lo encontrar força, fé e um motivo para não
desistir da vida simplesmente por ser uma das suas fontes de inspiração. E no
final, tudo o que Miles queria era poder viver um pouco das aventuras do Homem
Morcego, apenas porque acha que elas é que são aventuras espetaculares.
Enquanto isto, os milhares de espectadores que foram prestigiá-lo estavam lá
para conhecer outro tipo de super herói, e conhecer um outro tipo de aventura
totalmente diferente, um tipo mais maduro, mais plausível e muito, mas muito
mais espetacular: a aventura de uma criança que sobreviveu a uma doença
implacável.
Porque vencer o Coringa de vez em
quando é incrível sim, mas vencer a Leucemia antes de se aprender a atravessar
a rua sozinho... Isto sim, caro leitor, é heroico.
E se Miles diz que o Batman realmente
o ajudou, não creio haver argumentos lógicos o suficiente em lugar algum que me
façam duvidar de sua existência. Desejo inclusive que o Batman também esteja lá
para todas as outras crianças que precisem de sua ajuda, como Miles Scott
precisou.
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