segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Escolhas Pessoais


Outro dia eu estava lendo sobre a legalização da maconha em algum lugar da internet quando me deparei com um diálogo que me despertou a atenção. Um dos comentaristas escreveu que detestava um dos outros usuários porque o achava um viciado irresponsável que não queria saber de nada, que passava seus dias, despenteado, fumando, fedendo e destruindo a sua juventude. Então alguém lhe respondeu que não cabia a ele falar nada, pois tratava-se de uma escolha pessoal do indivíduo. Ah é?
Hoje em dia a cultura mundial se expandiu com tal velocidade e com tanta potência que a diversidade usualmente é acachapante. Com mais frequência do que seria esperado nós nos deparamos com hábitos, com maneiras, com costumes de origem desconhecida. Essas diferenças podem ocorrer pelo simples transplante cultural, onde temos, por exemplo, aquele amigo que todo mundo tem que é viciado em cultura japonesa e parece um esquisitão total aos olhos dos nacionais mais tradicionais; podem ocorrer também pela fusão que as pessoas são propensas a fazer de costumes diversificados, o que explica desde aquelas pessoas que tem apenas um senso de moda “bizarro”, até aqueles que se diversificam de forma tão obstinada, uniforme, que viram subculturas que logo são rotuladas e amadas/discriminadas à arbitrariedade do senso comum.
Esses comportamentos, por si só, não são passíveis de repreensão. Oras, no amálgama moderno apátrida que é a internet, nos milhares de pessoas que convivem diuturnamente e que encontram seu jeitinho próprio de expandir sua personalidade e na subsequente facilidade com que se percebe os padrões e as similaridades que comprovam a limitação flagrante na originalidade humana, fica mais e mais necessário que as pessoas busquem atitudes cada vez mais extremas para provarem (tanto para si quanto para seus iguais) a sua identidade. Nesse âmbito, eu creio, surgem as escolhas pessoais. Algumas mais efêmeras, que refletem na maneira de se vestir, de se portar, outras mais fortes, que se traduzem na maneira de agir, de pensar, e até mesmo aquelas mais extremas que resultam em verdadeiras transformações de concepção de vida. Isso tudo, claro, é fruto da busca do homem pelo seu cerne individual, a sua necessidade de se estabelecer como um sujeito autoconsciente e aceito.
Mas eu acho que todo essa conceituação deve ser obrigatoriamente confrontado com a noção humana básica de, bem, autopreservação. Não creio que seja legítimo qualquer comportamento que implique a auto lesividade, sabe? Não importa de qual religião você seja, mesmo que você não tenha religião na verdade, as chances são de que a auto flagelação imotivada, ou erroneamente motivada, não faça parte do seu conceito de normalidade. A autopreservação, entenda, não é aquele simples instinto que te diz para não se machucar, mas sim aquele que diz para você não se machucar por nada. Na maturação humana a auto flagelação, na verdade, é constante. São as noites sem dormir e os dias desconfortáveis para estudar, para se divertir, sei lá, nós nos forçamos a muitas coisas quando temos objetivos. Mas sabe, a autopreservação deveria agir quando nos colocamos em uma perseguição fútil ou tentamos nos prejudicar por nada. A autopreservação é isso, é o ser humano se afastando da sua danação através da aplicação de sua própria sensatez, esperteza, etc.
Então, a auto-exploração versus a autopreservação. Onde está você? Você é desses que acha que o manto das “escolhas pessoais” te deixa imune ao criticismo fundamentado, só pelo bel fato ser uma escolha que você fez? Ou você é capaz de procurar o melhor para si? Há uma diferença entre a Lady Gaga ou o Eminem, que procuram chocar com o objetivo de impor sua originalidade enquanto fazem rios de dinheiro, mesmo à custa de sua liberdade pessoal, credibilidade ou respeitabilidade, e alguém que te machuque ou que te roube. Todos esses indivíduos fizeram, oras, escolhas pessoais. Apenas um deles não atendeu ao conceito de autopreservação (penal, social, jurídica, política, moral, etc) que eu mencionei, você consegue dizer qual?
E o sujeito que desperdiça a vida (a dele e a de seus próximos) fumando maconha, ou ingerindo qualquer tipo de substância imprestável, ilícita ou não, de fácil obtenção ou não? Você acha que ele não é passível de crítica só porque “ele fez uma escolha pessoal”?
E sabe, se você tem um conhecido que está viciado em algum tipo de droga e você quer sinceramente ajudá-lo, não creio que não criticá-lo seja o melhor caminho. Aposto, aliás, que você vai sim utilizar o desprezo e a crítica gerados pela autopreservação; só que vai canalizá-lo na direção das drogas e não da pessoa por quem você preza.
Sim, estou dizendo que o homem não pode se desvincular do sentimento de desprezo, ódio, raiva, etc, jamais. Por mais que os contos de fada e os livros de autoajuda te digam o contrário.  

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