quarta-feira, 23 de junho de 2010

First of all, I'm the boss

Todo mundo tem um ídolo. Uma pessoa em quem se espelhar. Somos atraídos por esses indivíduos de projeção abrangente; rostos na TV, vozes na rádio, fotos nas revistas. Além da imediata simpatia com que encaramos a pessoa, surge o interesse de conhecer a sua vida, assimilar seu talento, entender o por quê da projeção. Personalidade, este é o centro da questão. Personalidade é aquela aura que emitem os seres humanos, e podem servir tanto para aproximação quanto para afastamento. E é essa personalidade pulsante que nos faz orbitar ao redor de suas batalhas e de suas conquistas. Nos interessamos pelos seus problemas. É uma necessidade que temos a de abstrair as nossas próprias vivências, os nossos próprios interesses, noutra pessoa. Palavra: Influência. Às vezes, essa ligação pode provocar profundas mudanças no recém-proclamado fã. Eu sei disso, oras. Muitos devem saber, eu sou um fã inveterado, aficcionado e devotado do sr. Marshall Mathers, aka. Eminem.
Eminem é o cara. He's the boss. Um cara mal-acabado, azarado, chutado de todas as direções, traído, desestimulado, que conquistou o rap. Como carne de cachalote, ele só precisou de uma pequena combustão inicial, e desde então fornece o óleo do próprio corpo para manter acesa a chama que o impulsiona para frente. E quando eu digo óleo do corpo, eu estou sendo praticamente acurado: é a sua eterna desgraça pessoal que traz a sua fama; como um contrato com o Diabo, ele só pode ter uma das duas coisas, mas ele estará sempre fadado à infelicidade.
Desde sempre, o que o rapper nos oferece é uma demonstração de genialidade enviesada; Eminem dissemina o ódio. O ódio em suas variadas formas, desde a simples (porém não menos eficiente) ironia, até os ataques diretos, recheados com a energia verbal que só ele consegue imputar em suas músicas. Ele não tem amor próprio quando se trata de destruir o próximo; o seu circulo de confiança é próximo da inexistência, e o seu respeito pelo que é alheio é como o dia 31 de fevereiro.
O mundo tratou com descaso o rapper, e o rapper paga com descaso pelo mundo. É um sentimento natural, chega a ser vulgar de tão simples. Mas é daí que nasce aquele tipo de genialidade disforme, imprópria, que eu tanto admiro. O Eminem é a desculpa que eu tenho para detestar tudo o que me detesta.
E recentemente, o rapper voltou da 'aposentadoria; . Com mais problemas do que nunca; o que é morbidamente normal. Drogas lícitas, perdas intragáveis, o Eminem anda com a vida fora dos eixos. Suas responsabilidades estão de pernas para o ar, e ele se sente culpado por tudo o que vêm acontecendo. Ele é extremamente inseguro, então os seus últimos álbuns refletem o que há de mais puro nele: são projetos artísticos desconexos, o primeiro sendo meio sem rumo, uma tentativa do rapaz de aliviar suas frustrações por meio de todo tipo de patologia conhecida pelo homem, enquanto o segundo já oferece uma decisão sólida do que ele quer perseguir.
O primeiro, Relapse, não foi tão bem recebido pela crítica. Bruto em excesso, e sem motivos, com produção fraca. Já o Recovery, que foi lançado esta segunda feira, dia 21 de Junho, tem uma produção que, embora passível de críticas, é indubtavelmente mais elaborada, e tem um Eminem que cospe seus versos de maneira voraz e astuciosa, mirando alto e tentando sair da cova em que esteve nos últimos anos. Como ainda não está de todo inteiro, o rapper ainda está meio distante do que era em seus anos áureos, representados pelos seus 4 álbuns iniciais.
A verdade é que estamos em 2010, e ele já tem 11 anos de carreira; mais do que 99% dos rappers por aí (todos, eu poderia dizer, fora o sr. Jay-Z). Não seria errado dizer, também, que o motivo pelo qual ele não tem recebido tanto crédito é que os críticos, e os fãs, não querem mais saber dele. Eminem tem 37 anos, já é pai de família e tem responsabilidades adultas. Ele não é mais tão magnético para os jovens, que só querem saber de sair para festas e, por que não, putaria.
Mas eu continuo aqui. Assistindo o desenrolar da vida de um grande homem. Eu anoto todas as lições de ódio que ele dá. Eu tento imitar o jeito dele de andar. Porque no final das contas, não tem nada que eu ache mais soberbo do que a luta de alguém contra, oras, si mesmo.

2 comentários:

  1. concordo plenamente, amigo, os heróis mais humanos e falíveis são os mais amados/odiados, estes seres humanos encenam muitas vezes a nossa própia nulidade, Eminem é realmente uma persona conturbada, a violência natural que a historicidade deste nomem exprime é ainda brutal e muito tangível, mesmo decorrendo tantos anos decadentes. No meu caso, elegi Nietzsche; um ateu anti-cristo, sifílico, impertinente, trágico e seco, mas que retrata a moralidade ideal, sem contar que ele é tem uma lingua absurdamente venenosa. Recomendo Ecce Homo, de Nietzsche... " Eis o homem!"

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