O que é
confiança?
A confiança, eu vim a imaginar, é a cessação momentânea da razão baseada na mera expectativa de comportamento pressuposto. É quando se deixa de levar em consideração fatores de um processo concreto, e se crê que ele tomará determinado desfecho ou direção baseando-se apenas na vivência. É estado fugaz de insanidade, poder-se-ia dizer. De puro desprendimento.
É a
base, também, da Segurança, aquela segurança que habita no coração
dos homens e que lhes dá forças para seguir nas direções que
desejarem sem que desgastem-se com o descomprometimento, a
aleatoriedade do real. Sem a confiança, qualquer passo parece um
passo em falso, a superação se torna muito mais trabalhosa e tudo
na vida parece muito mais complexo e perigoso.
A
desconfiança e a insegurança fazem parte do cotidiano de todos nós.
É por causa delas que, muitas vezes, amigos viram inimigos,
desconhecidos vem a se estranhar nas festas, professores usam apenas
de meia dedicação nas escolas, pais suprimem os sentimentos e
aspirações dos filhos, namorados brigam feio em noites bonitas e
desculpas não são pedidas e reparações não são providenciadas.
Hoje em
dia, é bem verdade, é muito fácil deixar germinar esse sentimento
traiçoeiro. Somos bombardeados com enxurradas de informações,
conhecemos tantos casos e causos e fatos e estórias que às vezes
não conseguimos ligar prosa a protagonista. Temos ao menos um
exemplo para cada situação bizarra que a mente puder inventar, e
até mais do que ela é capaz. Sabemos de todos os tipos de
manipulação, de todas as espécies de traição, de todos os níveis
de descomprometimento. Às vezes, junta-se o nosso medo interior,
inconsciente e antigo a uma história chocante, surgida de um
complexo totalmente diferente de nossa situação fática, e pronto:
isso já basta para que tenhamos a sensação de que estivemos certos
o tempo todo e que de algum modo conhecemos a realidade melhor do que
ela é capaz de inovar. É como se aquilo fosse um atestado lavrado
de que, só porque tal evento ocorreu com tal pessoa, somos o próximo
alvo dessa espécie de acontecimento. Mas não adentrarei nos
contornos da paranoia.
Esse
evento isolado, aleatório e pífio no mosaico ultra diversificado e
mega diferenciado do hodierno serve para que desse momento em diante
a realidade se torne 100% previsível e completamente mapeada. É
essa a solidificação da Insegurança, da confiança na
Desconfiança.
Eu gosto
de pensar que a realidade é mais enveredada e rica do que tudo
aquilo que eu já vi ou ouvi em meus um quinto de século, sabe?
Gosto de pensar que a vou continuar me surpreendendo com as coisas
(até, quem sabe, me formar talvez?).
Nós
somos mais telespectadores da vida do que gostamos de pensar. Devemos
ao menos ser bons telespectadores, e não abandonar a apresentação
antes da conclusão. Devemos ser cientes das coisas, não escravos
delas. Há, lógico, a possibilidade de que eu seja vítima de caso
similar àquele de que ouvi falar, claro. Assim como, e disso os
inseguros e desconfiados se esquecem com facilidade, há uma
possibilidade ainda maior de que um milhão de coisas aconteça.
Por isso
então, na minha vida eu tomo providências e atitudes que me façam
sentir algo seguro, e de resto espero apenas que as coisas desaguem o
mais próximo possível do que eu desejei em primeiro lugar. E você?
É satisfeito com sua atuação ou escravo do irreal e do hipotético?
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