sábado, 12 de fevereiro de 2011

Stieg Larsson, Liberalismo e blábláblá

Stieg Larsson é o autor da presentemente bombante Trilogia Millenium, que envolve os livros “Os homens que não amavam as mulheres”, “A menina que brincava com fogo” e “A Rainha do Castelo de Ar”. Desses, eu já li o primeiro e estou na metade do segundo. E não estou aqui para criticar o enredo dessas obras, que eu acho simplesmente espetaculares. O Sr. Larsson, já falecido, sem dúvida dominava a arte de criar Thrillers intensos e exemplarmente articulados. A leitura é quase narcoticamente viciante. Mas existe um ponto que eu achei interessante para trazer à baila.
Stieg Larsson se acha moderno. Suas histórias são recheadas de computadores super modernos da Apple e operações financeiras super intrincadas e outras coisas. Mostram uma Suécia (porque lá se passa o cerne da história) de ponta. E não é só nisso que o autor persegue a alcunha de Moderno-Liberalista: ele recheia as suas história de todo tipo de ideologias recentes: a protagonista mulher é coberta de tatuagens e bissexual; tem um caso com um homem que poderia ser seu pai durante quase todo o primeiro livro; possui casais gays tanto masculinos quanto femininos; várias personagens gostam de se vestir de maneira tão provocativa que em certo ponto do segundo livro são confundidas como putas por policiais; e, o que tem mais destaque ao meu ver, uma outra personagem mulher é casada mas, vejam bem, tem relação amorosa com o protagonista. Tem pontos onde ela chega a ir passar semanas dormindo com amante. Tudo isso, com a devida sanção do marido. Beleza. Muito interessante essa iniciativa “moderna” do autor de dar à mulher a liberdade sexual. Legal, legal.

Essas palavras vazias e tão em voga, “modernidade”, “liberalidade”,são uma boa iniciativa para incitar o desrespeito leviano. Ao meu particular modo de ver, lógico. Na trama, eu diria que os personagens não fazem amor, raramente fazem sexo, mas fornicam como lebres loucas. Sim, estou estabelecendo uma nova categoria, me processe. Vejam bem, a partir de hoje, fazer amor é aquela transa com aparência positiva e dignificante, sexo é a transa com aquele viés negativo, mais comum e puramente selvagem, enquanto fornicar é, de agora em diante, aquela transa que não significa mais nada. Nada. Nem positivo, nem negativo, nada. Só “Oh olá, tudo bem? Vamos transar. Sim, tudo bem. Isso, eu gostei, você gostou? Tá bom, beijo me liga!”. Quero dizer, é isso o que eu vejo na escrita do sr. Larsson, personagens que literalmente se apresentam e...transam!
Mas estou me desviando do tópico. Vejam bem, não vou criticar a iniciativa de espalhar homossexualidade pela obra como se fosse um papel de parede bonitinho, até porque a moda hoje é essa (vide novelas da globo). Mas essa da esposa que trai com o aval do marido... Vamos lá, acompanhem meu humilde raciocínio. Casamento, promessa de amor e devoção. Instituição quase tão antiga quando o ser humano, blábláblá. Posso parecer meio conservador demais para um rebelde psicológico, mas eu acredito no Matrimônio. O ser humano sempre vai precisar dessa união. E eu acredito também na devoção entre as partes. Sabe, se a minha esposa viesse com essa de “Oh, eu te amo, mas eu quero continuar transando com o Manolo” (porque é isso que a personagem fala: que ela “ama” o marido, mas que precisa dos cuidados sexuais do protagonista), eu iria calmamente pegar o meu rifle e polidamente perguntar se ela também não está a fim de mais uns buracos pelo corpo para que o Ricardão possa “enchê-la de piroca” com mais eficácia. Aí, eu a chamaria de “Vadia!” e mandaria ela sair da casa, com o cuidado de deixar a aliança na mesa do jantar. Oras, vejam só. Não é apenas a minha insegurança falando (Ih, o Haroldo não confia no taco dele!). Não. A questão é: as regras do casamento são claras. Se você pede para entrar, mas não as cumpre, você não deveria ter pedido para entrar em primeiro lugar! Digo, como pode haver respeito profundo se a mulher fica abrindo as pernas para outro fulano? Se ela passa semanas dormindo com o outro? O que nós temos é uma pessoa que na verdade não quer nada com nada da vida, que quer submeter os outros às suas vontades, manipulá-los até, só para se ver agradada. A parte em que amor é sacrifício e provação não tem lugar mais nessa coisa de modernidade, não é verdade? Agora a onda é “Hey, vamos fornicar! Uhuuul!”

Mas tudo bem. A ausência de comprometimento e de respeito passa batido, beleza. Mas não é nem esse o problema mais sério.

Certa vez, meu pai acordou no meio da noite com uma falta de ar terrível. Dores no peito, na cabeça, não conseguia falar por causa da falta de ar e até para se mexer tinha dificuldades. Mas mamãe estava lá, e o ajudou. Dirigiu-o até um hospital e tudo ficou bem. Isso é um casamento.
E se a dona personagem-da-obra estivesse numa dessas suas noitadas com o seu Número-2, tudo permitido por um marido que realmente a ama ao ponto de sonegar seus próprios sentimentos para que as vontades tolas de sua esposa possam extravasar, e o tal marido, sozinho em casa (porque eles não tem filhos e moram sozinhos) tivesse, digamos assim, a falta de ar que o meu pai teve? Sem uma esposa de verdade lá para ajudá-lo, recuperá-lo e segurar sua mão até o hospital mais próximo? Simples assim, senhores. Ela voltaria para casa e veria solucionado seu problema de bigamia, devido ao paciente cadáver que a esperaria, ainda na cama, em suas roupas de dormir, como a esperou seu marido tantas vezes, tantas noites antes daquela fatídica. Casamento serve para coisas assim. O meu conservadorismo me conduz à pensar em situações assim, oras. O casamento não foi feito para felicidade eterna, porque felicidade é um conceito tão evasivo quanto água corrente, mas para o suporte. Tupac Shakur já abordava o tema em uma de suas belíssimas canções: “Esteja lá quando for necessário me suportar e me ajudar, porque é para isso que você está aqui comigo”. Isso me faz questionar o próprio conceito de divórcio, mas não entremos em águas tão arredias.

É isso aí, certos pontos do modernismo você pode enfiar no cu e girar, ok? A tentativa do sr. Larsson de parecer moderno e livre de preconceitos cansa às vezes, pois ele tem essa mania de levar ao extremo a flexibilidade das coisas. Suas personagens são bem construídas, mas suas ideologias causam choque. Talvez isso seja só mais uma tática para impressionar, para causar frisson, mas é algo que eu acho digno de ser comentado. Afinal, não são poucas as pessoas que vestem a camisa da Modernidade e utilizam o pretexto da “ausência de preconceitos” para extravasar o que há de pior e mais mesquinho no seu ser.

É isso o que eu acho. Não concorda? Me processa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário