segunda-feira, 6 de setembro de 2010

É o fim da picada amazonense

Quem é Márcio Souza? É um dos mais proeminentes escritores do Amazonas. É, como se isso fosse grande coisa.

Bem, para quem não viu,o respeitabilíssimo sr. Souza teve um texto seu publicado ontem no jornal A Crítica, chamado 'Descrença'. Nesse texto, ele começa expondo sua decepção com os rumos que a nossa cidade trilha. Ele conclui a primeira parte dizendo que, mesmo apesar de quaisquer esforços políticos que possam vir a influenciar nossa Ordem Pública, a única maneira de Manaus se redimir e se tornar uma bela capital tranquila e calma é sendo aniquilada por uma calamidade pública de destruição em massa como a que abateu Nova Orleans. Então ele cita os grandes inimigos da paz pública: a bagunça, a ignorância, o desrespeito, a prepotência e a ignorância.

Ele conta, na segunda parte, como essa semana ele teve de sair à rua, experiência que por suas palavras só pode significar algo como o traverso do percurso de Dante em A Divina Comédia: Inferno. Ele se dedica a citar todos aqueles embaraços e desconfortos que uma visita ao centro da nossa cidade pode proporcionar, com a constância de verdadeiras aberrações desastrosas satânicas infernais como, por exemplo, vendedores de pamonha. E, pasmem, a praga hecatomba que faz metrópoles perdidas em conflitos de violência do naipe de RJ e SP parecerem um parque diversão: flanelinhas. Eu sou apenas capaz de imaginar a dor que aflige o humilde escritor toda vez que ele ouve o preço de uma pamonha ser gritada na rua, ou a vergonha que ele deve sentir quando um flanelinha o ajuda a fazer aqueeela baliza. Enfim, depois de um enorme, gigantesco e maceta parágrafo descrevendo, horrificado, essas situações típicas dos mais 'pobres', ele se redime (ou tenta): “Mas não são eles (os pobres) que me irritam. É a classe média, que estaciona nas calçadas, que realmente me enerva”. MAS É CLARO QUE É A CLASSE MÉDIA, afinal está na moda criticá-la, não? Logo se vê que o autor andou assistindo Tropa de Elite, difusora principal dessa filosofia. Eu também não sei que recurso literário sofisticado é esse que ele utiliza, de passar horas fazendo críticas vexatórias à alguma coisa para então mudar o objeto do discurso, subitamente, e culpar algo mais supérfluo e que o faça parecer mais socialmente comprometido, mas seja lá o que for, Márcio Souza o domina como ninguém. A partir daí, o autor prossegue para fazer aquelas críticas costumeiras e impessoais à erros cometidos pela ordem pública, coisas em geral menos comprometedoras, e que no ponto de vista dele corroboram o sentimento de descrença que ele tem.

Esse texto me deixou realmente incomodado num domingo de manhã. Oras, Márcio Souza é um escritor que ficou famoso em cima do estudo da história da região Amazônica, matéria que era utilizada nas suas obras à torto e a direito. Ele, mais do que ninguém, se fosse metade do estudioso que se supõe ser, teria um olhar mais inteligente e mais parcimonioso em cima dessas questões regionais. Ele DEVERIA entender os resultados que uma modernização acelerada causam numa cidade tão sem planejamento quanto Manaus: bagunça, senhores. Estamos ainda apenas aprendendo à lidar com as novidades. Ainda estamos caminhando. Vamos melhorar um dia, tenho certeza. Ninguém vive na bagunça porque quer, ninguém empurra um carrinho de pamonha porque quer. Temo que o nosso ilustríssimo escritor deva estar acostumado agora com a boa vida, seus usos agora dizem mais respeito ao refinado e à primeira classe, seu traseiro afofado pelos apoios das melhores poltronas que o dinheiro pode comprar. E a sua mente, velha. Velha como o é o seu objeto de estudo. Porque essa situação de agitação social, de burburinho enlouquecedor, não passa de algo natural. Presente estava nas obras de, oras, Machado de Assis, naqueles contos em que ele detalha o vai-e-vêm dos centros urbanos antigos do RJ, assim como estava presente em tantas outras obras que lidam com a modernidade. Lá estava o protagonista de Crime e Castigo passando mal no meio da agitação enlouquecedora de uma Moscou antiga, nas obras de Dostoiévski, ou aquele inferno industrial que podemos assistir em obras como As Grandes Esperanças, de Charles Dickens. Obras clássicas que um membro cultuado da nossa literatura moderna, oras vejam, falhou em conhecer.

Faça-nos um favor, sr. Márcio Souza, e junte as suas coisinhas e retire-se da nossa região, já que ela tanto desagrada o senhor; aproveite, e PÁRE de escrever também, já que o senhor parece demonstrar tão pouco conhecimento factual sobre ela, à final de contas.

Obrigado, tenha um bom dia, não encha o saco.

PS2: Desculpem se eu estou mais explosivo e delituoso que o normal, meus leitores, mas é que eu tenho especial carinho e afeto pela literatura, e pela pessoa dos autores também, e para mim é difícil separar um do outro.

2 comentários:

  1. Tenho nem o que comentar, você pode ter tido tudo.x)

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  2. Bagunça define muito bem a situação incoveniente em que nós vivemos/suportamos cotidinamente em Manaus. Seja pelo enrubescimento do ser supra-citado defronte uma realidade que não massageie o seu ego, parecendo esquecer que não vivemos na europa ou muito menos que a explosão demográfica não acompanhou o desenvolvimento( e adaptação) do Estado no que diz respeito a garantir a todos uma vida frutífera em possibilidades e consciência. Portanto, convivemos em um ambiente moderno de mentes rústicas que não cresceram em proporção ao desenvolvimento da região. Discutimos sobre um assunto que tange a este, lembra-se Haroldo? Sobre a penalidade máxima de 30 anos e et cetera... Enfim, deixarei de chover no molhado, até mais ver, ótimo post, bro \m/,

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